O velho estigma antilusitano, que continua em boa parte a ser alimentado na escola, na historiografia, na literatura, no cinema e nos media do Brasil, deixa naturalmente marcas profundas.
Veja-se, por exemplo, esta reacção ao incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, retirada do FaceBook
Robson Lucas de Oliveira 13 h ·
Justiça histórica sendo feita pelas mãos do acaso. Acaba de ser consumida em chamas a antiga Casa Grande da família que por anos dominou, massacrou, e explorou o povo brasileiro, além de ser notoriamente conivente com a escravização dos negros africanos. EDIT, aos que não me compreendem: Tudo o que apague do cenário brasileiro a lembrança daquele período nefasto (assim como de outros) é um alívio para mim e certamente para todos cujo sofrimento atual é uma herança daquela época.
EDIT, aos que não me compreendem: Tudo o que apague do cenário brasileiro a lembrança daquele período nefasto (assim como de outros) é um alívio para mim e certamente para todos cujo sofrimento atual é uma herança daquela época.
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Muita gente reagiu, colocando seu Robson no seu lugar, mas muitos outros também parece que gostaram porque partilharam o comentário descabido e equivocado. E isso, juntamente com aquilo que conheço bem por anos de vivência no Brasil leva-me a concluir que não estamos perante um caso isolado.
Apesar da manifesta melhoria das relações comerciais, apesar da TAP, da Embraer e dos contactos, um oceano de percepções continua a separar Portugal do Brasil. Que os brasileiros tenham cultivado o antilusitanismo, no século XIX, para construírem a sua própria identidade (que não existia antes da independência), compreende-se; que o continuem a fazer até hoje, quase 200 anos depois, já se percebe menos.
Mas a responsabilidade não é só deles – é portuguesa, também. Há pelo menos 15 anos que se assiste aqui a um apagão mediático português no Brasil – a Lusa fechou portas, a RTP foi retirada pela Globo da principal rede de distribuição por cabo e a SIC, que está lá, não tem programação especificamente dirigida ao Brasil.
Assim sendo, nenhum grande media português verdadeiramente dialoga com a população brasileira. Há muito que Portugal virou costas ao maior mercado de língua portuguesa do mundo. Sim, há mais livros, há autores portugueses publicados, etc. Mas nada disso atinge o essencial – o preconceito anti-português que está na própria raiz da nacionalidade brasileira.
Para isso ser superado ou mitigado teria que haver da nossa parte uma atenção muito maior e uma muito maior presença mediática portuguesa no Brasil, que simplesmente não existe.
Até lá, continuará a haver quem se regozije pela queima acidental do passado português do país; e a avaliar pela profundidade do ressentimento, nem sequer se pode excluir que alguém, nalgum lugar, lhe ponha fogo.
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