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João de Sousa

Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Incógnito

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Poemas de Delmar Maia Gonçalves

I

“Entre o sonho e a realidade”

Sonho
sonho permanentemente
utopicamente
desesperadamente
mas vivo a realidade
Talvez se tivesse nascido
noutras épocas ou noutros espaços
tivesse conhecido Gandhi e King
Luthuli e Mandela
trocasse ideias
partilhasse ideais
fosse um herói de revoluções
concretizasse o sonho de muitos homens
e fizesse feliz a “raça” humana.

II

“Xana, a mulata do Torrone”

Xana
a mulata do Torrone
era donzela
de mil virtudes!

Não tinha mãe
não tinha pai.

Tio “Velho”
era seu padrinho
e transpirava mil desejos por Xana.

Xana
a donzela
de curvas pecadoras
tornou-se virtuosa
e perdeu o Lírio dos campos
na cama do seu amante, dono, padrinho e tio!

III

“As duas faces do Cão Tinhoso”

Cão Tinhoso
era estranho
era guerra
era sombra
Cão Tinhoso
morreu
nasceu nova aurora
e com ela a esperança.
Agora Cão Tinhoso
é outro
Não é estranho
mas é guerra
não é estranho
mas é sombra
e é nosso pai,
nosso tio,
nosso primo
e nosso irmão!
A desesperança instalou-se
aguarda-se o renovar aurora
e com ele nova esperança.

IV

“Incógnito”
(ao mestre José Craveirinha)

Eu cidadão qualquer
de um mundo que já existe
e ninguém reconhece
vou driblando
os postes esguios e tortuosos
por entre os seixos e as pedras dos caminhos
de fio a pavio
fintando as métricas herméticas
impostas pelos estetas
as volumetrias poéticas do rebanho
e a geometria das vidas vazias e alinhadas
que nos ofertam.

V

“A espera”

Todos dias
novo parto
todos dias
nova morte
a réstea de esperança
ou amplia ou encolhe
nada depende do acaso.

VI

Mau agoiro
aquele que os Corvos
trazem com a sua anunciada presença.

Bom agoiro
aquele em que se anuncia
a ausência dos Corvos.

VII

“Mulher – V”

No teu corpo
construi uma ilha!

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