A indústria 4.0, designada por alguns como a quarta revolução industrial, constitui matéria bastante para preocupar as organizações sindicais e os trabalhadores, na medida em que está em causa a pretensa substituição do homem pelo robô ou a alteração de processos de automação mais evoluídos, que ameaçam o emprego, as relações de trabalho e, em última análise, os sistemas de Segurança Social.
É importante deixar claro que a CGTP-IN e os trabalhadores, não são contra a inovação tecnológica, as melhorias dos processos de trabalho e sua organização, desde que a combinação de todos estes factores tenha como finalidade última, servir o bem-estar dos trabalhadores e contribuir para o desenvolvimento industrial e económico do País.
Mas importa referir que a discussão deste tema, nos domínios europeu e nacional, apenas tem envolvido instituições da U.E., governos e grandes multinacionais e transnacionais dos sectores automóvel, da electrónica de componentes, agroalimentar e turismo, o que nos deixa ainda mais preocupados.
Definidos que estão os sectores considerados prioritários, para onde o Governo pretende mobilizar recursos públicos e facilitar a vida das multinacionais, em sectores da indústria nos quais o do automóvel e seus componentes se destacam pelo peso na formação do Produto Interno Bruto, importa pois ir um pouco mais fundo neste debate.
O que se conhece é a existência de grupos de trabalho com o envolvimento de algumas multinacionais, designadamente, a Delphi Automotiv Systems, Yasaki Saltano, Faurecia, que deixam muito a desejar no que às boas práticas nas relações de trabalho diz respeito, isto porque são exemplo, pela negativa, no que concerne às condições de trabalho e ao cumprimento dos direitos dos trabalhadores, porque promovem as discriminações.
É também conhecido que consta do programa de Governo, no designado Plano Nacional de Reformas, que a digitalização da economia terá uma relação directa com a indústria 4.0.
Todo este processo está a desenrolar-se com a matriz de aumentar os negócios e alargar as mudanças na gestão do tempo de trabalho para responder aos chamados picos de consumo, isto é, mais bancos de horas, adaptabilidades de horário, redução de custos e tempos mortos nos processos de produção.
A História, desde a Revolução Industrial demonstra, com factos, que quando se verificaram mudanças radicais nos processos e métodos de produção, o capital procurou e procura sempre, com isso, aumentar a exploração, destruir postos de trabalho e agravar as condições de prestação do trabalho, sempre em nome da competitividade e dos negócios.
Na História mais recente do nosso País foi o que aconteceu na década de noventa com o incremento da automação em muitas empresas que trabalham para a montagem automóvel, onde o aumento dos ritmos de trabalho e horários de trabalho desumanos geraram milhares de trabalhadores portadores de doenças músculo esqueléticas, processos de despedimento embrulhados em reestruturações e promoção de baixos salários.
Mas também é importante referir, quanto a este período da história do nosso país, que ainda não se apagou da memória dos trabalhadores, os benefícios fiscais e fundos comunitários de milhões e milhões de euros que muitas multinacionais receberam, em nome da inovação tecnológica e da suposta criação de emprego.
Ora, o resultado ficou á vista de todos. Depois de tudo isto, continuamos no pelotão de trás na produtividade, dos baixos salários, da melhoria das condições de trabalho, mas estamos no pelotão da frente no número daqueles que, explorando, estão cada vez mais ricos, enquanto se mantêm e aumentam os níveis de pobreza de quem trabalha.
Tal como no passado, em processos que provocaram mudanças profundas, para pior, nas relações de trabalho, o capital contou com o firme combate dos trabalhadores. Agora não será seguramente diferente.
A questão que se coloca não é o facto de termos medo da designada quarta revolução industrial, como alguns pretendem fazer crer, mas sim impedir que esta aumente ainda mais a exploração e exigir que o incremento das novas tecnologias permita diminuir o tempo de trabalho sem reduzir salário, para melhorar a qualidade de vida, criar mais empregos, melhorar as condições de trabalho, defender a segurança social em suma valorizar o trabalho e os trabalhadores em detrimento dos benefícios do capital.
Rogério Silva, Coordenador da Fiequimetal e Membro da Comissão Executiva da CGTP-IN
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