Segundo Paulo Kliass, elevação dos preços acentua a concentração de renda e agrava a desigualdade social e econômica.
A carestia do Governo Bolsonaro que recaiu sobre os mais pobres foi 32% maior do que a que atingiu o bolso dos brasileiros de alta renda nos últimos 12 meses. O cálculo foi realizado pelo doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental Paulo Kliass, para o qual a alta dos preços também está empurrando mais pessoas para a pobreza, na qual passaram a viver 27 milhões de brasileiros, quase o triplo do número dos que se encontravam nesta condição em agosto do ano passado.
“A inflação acentua a concentração de renda e agrava a desigualdade social e econômica. Quem recebe menos está, proporcionalmente, pagando mais”, afirma. O Indicador de Inflação por Faixa de Renda, apurado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontou que, em 12 meses, a taxa de inflação das famílias de renda muito baixa (10,63%) se mantém em patamar acima da observada na faixa de renda alta (8,04%).
De acordo com Kliass, quanto maior a inflação, menor a renda real dessas famílias, que é a renda monetária descontada a inflação: “Se a pessoa ganhava pouco e não teve reajuste, o poder real de compra dela diminuiu, o que significa que o que ela ganha não dá para comprar o que necessita. Dessa foram, estamos vendo pessoas que viviam na miséria indo para a extrema miséria e os que viviam na pobreza caindo na pobreza extrema”.
Kliass explica que, como os padrões de consumo são diferentes, a inflação afeta as classes de forma distinta. A população de baixa renda está sofrendo mais com a inflação porque já tem uma cesta de consumo muito reduzida e concentrada nos itens de primeira necessidade – como aluguel, alimentação e transporte -, os que mais subiram.
Já a população de alta renda tem uma cesta mais variada, composta também por bens que não sofreram elevações tão grandes: “A alta renda gasta com supérfluos, aquisição de produtos, viagens, refeições fora de casa. Enquanto isso, os itens básicos da alimentação subiram muito e a população de mais baixa renda está deixando de comer proteína animal. Por isso, o efeito da inflação sobre a renda da família de alta e baixa renda é desproporcional. Penaliza os mais pobres”.
O preço da energia também vem contribuindo para esta distorção. “O peso da conta de luz em uma renda baixa mensal é maior do que para a alta renda. O mesmo acontece com a alta do combustível: aumentaram a gasolina e o diesel, encarecendo o transporte. Também subiu o gás de cozinha e as pessoas chegaram a um nível de precisarem substituir o botijão pela lenha. É esse risco de acidente, para a saúde, que a população pobre agora precisa enfrentar”, lamenta.
por Mariana Mainenti | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado