David Cameron levou a melhor e regressou a Londres como um herói
Ainda me recordo dos tempos da “Guerra das Malvinas”, na Argentina, em que o camarada Cáceres Monteiro me disse:
“Zé, os ingleses são danados! Eles dão um chouriço apenas quando têm a certeza que vão ter um porco de volta”.
A cimeira de Bruxelas veio confirmar isso mesmo.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, regressou a Londres como se fosse um herói de um filme do cineasta Alfred Hitchcock, anunciando que a cimeira de Bruxelas correu muito bem e ele mesmo vai encarregar-se de recomendar aos eleitores ingleses a manutenção do Reino Unido na União Europeia (UE), durante a campanha para o próximo referendo que vai ter lugar no próximo dia 23 de Junho.
“Penso que isto (o acordo) basta para recomendar que o Reino Unido permaneça na União Europeia”, declarou Cameron durante uma conferência de imprensa em Bruxelas e com um sorriso rasgado, felicitando-se por poder agora beneficiar “do melhor de dois mundos”.
O primeiro-ministro inglês, antes de embarcar para Londres, escreveu uma mensagem no Twitter que dizia o seguinte:
“A Inglaterra conseguiu alcançar um estatuto especial dentro da União Europeia e era isso que nós queríamos”.
Os ingleses sempre encararam a União Europeia como um projecto lírico. Aliás, não foi por acaso que se recusaram a aderir à moeda única.
Nas informações disponibilizadas ainda oficiosamente, o acordo prevê que o Reino Unido possa aplicar um “travão de emergência” por sete anos para os benefícios sociais para os recém-chegados e que o abono de família possa ser pago, aos novos habitantes, de acordo com as condições do país onde a criança vive.
O Reino Unido também ficará de fora das medidas para o aprofundamento do processo da integração europeia.
Ou seja, mais uma vez os ingleses venceram no medir de forças com os outros líderes europeus, nomeadamente com a chanceler alemã Angela Merkel e o Presidente francês, François Hollande.
Não foi por acaso que Angela Merkel, classificou o acordo da cimeira maratona de Bruxelas como “um compromisso equitativo”. Foi um acordo para manter o Reino Unido na União Europeia (UE) e nada mais.
O primeiro-ministro português, António Costa, “como europeísta convicto” que diz ser, limitou-se a sublinhar o seguinte: “mais importante que o documento do acordo é a manutenção do Reino Unido na União Europeia (UE)”.
O tempo encarregar-se-á de demonstrar quem são os ingleses. Os argentinos são os mais indicados para falar dos britânicos.
Mas esta manhã, quando anunciou à imprensa a data do referendo sobre a continuidade da Inglaterra na União Europeia, David Cameron deixou bem claro como é que se pensa em Downing Street:
“Eu não amo Bruxelas, amo a Grã-Bretanha”.
“Sou o primeiro a dizer que há muitas coisas nas quais a União Europeia precisa de melhorar. Nunca direi que o nosso país não sobreviveria fora da Europa, não é isso que está em questão. O que está em questão é que ficaremos melhor, mais seguros e mais fortes dentro da UE”
Explicou. Mais palavras para quê? Esta tem sido sempre a postura da Inglaterra face à União Europeia.
Momentos depois de Cameron ter anunciado que o referendo sobre a permanência do Reino Unido no bloco comunitário vai ser realizado a 23 de Junho deste ano, o titular da pasta da Justiça, Michael Gove, afirmou, num comunicado, que a saída da UE assegura ao país um “futuro melhor”.
O ministro do Trabalho e Pensões, Iain Duncan Smith, a responsável britânica para a Irlanda do Norte, Theresa Villiers, o titular da pasta da Cultura, Meios de Comunicação e Desporto, John Wittingdale, e o líder da Câmara dos Comuns, Chris Grayling, também anunciaram que não apoiam a linha oficial do Governo, que apoia a permanência na UE.
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