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Sábado, Dezembro 21, 2024

Díli: água a mais e cidadania e governação a menos

M. Azancot de Menezes
M. Azancot de Menezes
PhD em Educação / Universidade de Lisboa. Timor-Leste

A cidade de Díli foi fustigada pelas chuvas. As ribeiras transbordaram e muitos bairros estão inundados. Ocorreram mortes e muitos prejuízos materiais.

Há défice de cidadania, má governação e esquece-se que as inundações mais frequentes no país são as cheias rápidas, perigosas pela sua velocidade e capacidade destruidora.

Num momento em que Timor-Leste atravessa mais uma crise política devido à falta de entendimento (quase permanente) entre a liderança, actualmente com um governo praticamente inoperante, como se não bastasse, no passado dia 13 de Março, as fortes chuvadas provocaram a morte de várias pessoas e o caos na cidade de Díli.

Cidade de Díli após chuvas de 13 de Março

Há vários sucos (divisões administrativas que podem ser constituídas por uma ou mais aldeias) inundados, Taibessi, Bidau, Balide, Matadouro e outras zonas da cidade estão parcialmente inundadas.

A Escola portuguesa, por exemplo, foi fortemente afectada, com correntes de água provenientes da ribeira de Bidau (Leste da cidade de Díli) que derrubaram um dos muros  e obrigaram alunos e professores a subir para o 1º andar.

Na Escola portuguesa de Díli as crianças foram conduzidas ao 1º andar

 

A força das águas provocada pelas cheias de 13 de Março

 

Chuvas tropicais, morfologia do território e ineficácia do governo

É sabido desde o tempo colonial, “as catástrofes naturais que mais afectam o território de Timor-Leste são provocadas maioritariamente por inundações, tempestades, escorregamentos, sismos, tsunamis e erosão, sendo a actividade humana um factor agravante na maioria dos casos” (Filipe Thomaz, et al, 2002).

Esta vertente, a “actividade humana”, agrava a situação e deve merecer a atenção particular de governantes e cidadãos, mas isso não acontece.

O aumento demográfico que se está a registar na cidade de Díli, em 2015 havia cerca de 253 mil habitantes, e a falta de controlo governamental, na medida em que há uma forte pressão do ambiente pela alteração do uso do solo, contribuem para a mudança das relações naturais, como a impermeabilização e a canalização do escoamento.

Os governantes não podem esquecer que “as elevadas precipitações, os acentuados declives, as bacias hidrográficas de reduzidas dimensões e o estado do coberto vegetal são alguns dos factores que provocam este tipo de inundações” (Fonte: Atlas de Timor-Leste, 2002).

As construções desorganizadas, o uso e a ocupação do solo urbano sem os necessários estudos (competentes) sobre o impacto que essas acções geram ao ambiente são alarmantes e apresentam complicações geológicas devido às construções em áreas de declividade, portanto, originando quedas de pontes e de outras construções, bem como, deslizamentos.

Queda parcial da Ponte BJ Habibie, em Bidau Santana

 

Em relação à problemática em torno da nova ponte (BJ Habibie) situada no final da rua principal do Bairro de Lecidere que faz a ligação para a praia da Areia Branca, há necessidade absoluta de reflexão e análise.

Tomei conhecimento de fonte fidedigna que houve uma proposta portuguesa  para a  resolução do problema de todo o sistema hidráulico de Díli, com uma obra no valor de 150 milhões de dólares. A proposta foi ao Parlamento Nacional, sem aprovação.

Os chineses, através da sua Embaixada, apareceram e disseram que se ofereciam para a construção do “sistema hidráulico de Díli”, com o orçamento de 150 milhões de dólares, mas de forma gratuita.

Os deputados não aceitaram o orçamento da obra em favor da ADP – Águas de Portugal uma vez que os chineses a ofereciam, mas, depois, estes nada fizeram. Está tudo por fazer..não aceitaram os portugueses, aceitaram os chineses, mas estes últimos nada fizeram.

Entretanto, o governo timorense decidiu construir a ponte, em outro negócio, e agora a ponte caiu parcialmente com as chuvas de 13 de Março. Note-se que, antes, havia uma obra de 1960, construída pelos portugueses, contudo, a população timorense aumentou 26 vezes..

Face a este descalabro, o Secretário de Estado da Protecção Civil, no dia 13, anunciou a necessidade de nova obra no valor de 250 milhões de dólares. Que mais dizer?

Sobre esta matéria, eis o testemunho de um português que conhece bem a realidade de Timor-Leste:

o grande problema é que os portugueses fizeram uma obra hidráulica em 1960 quando a cidade tinha uma dezena de milhar de habitantes … agora .. encanaram linhas de água .. construíram em cima .. a água ganha velocidade a descer de Dare .. leva tudo na frente ..”

 

Lixo na cidade de Díli

Quem conhece bem a cidade de Díli pode observar o lixo crescente nas ruas da cidade, principalmente com milhares de garrafas de plástico que entopem os esgotos e muitas delas vão para o mar, sabendo-se que levam 400 anos no processo de degradação.

 

As áreas comerciais, jardins públicos da cidade e residências não escaparam à força das águas.

 

Cidade de Díli

Jardim de Lecidere, cidade de Díli

Resultados das cheias

 

Os animais também sofrem as consequências das fragilidades do ser humano.

 

 

Inundações em Díli

Imagens

Vídeos

 

https://www.facebook.com/dino.hanjam.3/videos/1349926415210327

https://www.facebook.com/enginerio.michael/videos/1352584941617734

https://www.facebook.com/cquintas/videos/10157064767438202

https://www.facebook.com/cquintas/videos/10157064757388202

https://www.facebook.com/costa.aurio/videos/2894713553943869

 

https://www.facebook.com/tc.remedios/videos/2616347531912106

https://www.facebook.com/tc.remedios/videos/2616347135245479

https://www.facebook.com/aqing.ung/videos/10221452302847607

(este vídeo passa-se frente à Escola portuguesa)


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