Aqui se fala de música e cinema, de filmes mudos, de bandas sonoras famosas e de músicas originais.A partir de hoje e até à próxima terça-feira a Casa da Música leva a efeito um pequeno ciclo com um título muito sugestivo: “Invicta.Música.Filmes”. Desde logo, porque de uma assentada nos remete para o Porto, onde decorre o programa, e para a “Invicta Filmes”, empresa pioneira da produção de filmes no nosso país. Filmes mudos que, tal como acontecia noutras paragens, eram exibidos com acompanhamento musical ao vivo. Em geral um pianista razoavelmente virtuoso e com capacidade de improvisação. Com um olho na tela e outro no teclado lá ia procurando ajustar a intensidade, o ritmo e a melodia à acção, umas vezes romântica, outras em que o suspense, as perseguições desenfreadas ou até alguma violência se impunham ao olhar embevecido, cúmplice, incrédulo ou genuinamente assustado, do espectador nessa época ainda pouco habituado à visão do produto cinematográfico.
A este propósito evoca-se aqui o “Museu do Cinema”, exibido durante anos na RTP, em que António Lopes Ribeiro, acompanhado pelo maestro António Melo, deu a conhecer a várias gerações os primeiros filmes de Chaplin, mas também de Max Linder, Mack Senett, Buster Keaton, Harold Loyd e muitos outros, para além de muitos filmes portugueses do tempo do mudo. Já no final da vida, a partir dos estúdios do Porto da RTP, Lopes Ribeiro ensaiou uma segunda série do “Museu do Cinema”. Nessa altura o pianista era o maestro Resende Dias, irmão do grande pintor Júlio Resende.
E vamos ao programa…
Mas deixemo-nos de “histórias” e vamos ao programa que hoje começa. Uma advertência inicial: o programa é, formalmente muito variado. Vamos ter um clássico mudo acompanhado por música original, um filme com actores falantes (e que actores!) mas em que a banda sonora musical vai ser interpretada ao vivo, vamos ouvir famosas músicas de filmes e vamos ver e ouvir filmes e músicas muito recentes no âmbito de um projecto pedagógico de particular importância.
Factory 365
Concretizando: a abrir, hoje pelas 16 horas, na sala 2 da Casa da Música, o projecto Factory 365 evoca a Revolução Industrial e a transformação das pessoas em máquinas ao serviço do mercado. Filmes de animação originais, realizados por alunos da Escola Profissional de Tecnologia Psicossocial do Porto sob a orientação da Anilupa – Associação de Ludotecas do Porto, serão acompanhados pelo Ensemble de Gamelão da Casa da Música. A direcção musical é de Jorge Queijo e Maria Mónica.
Há Lodo no Cais
Também hoje, às 18 horas na sala Suggia, passará Há Lodo no Cais, filme de 1954 de Elia Kazan. Tão brilhante quanto polémico (os sectores mais à esquerda da sociedade americana da época nunca perdoaram a Kazan o facto de ele fazer o retrato de um sindicato de estivadores envolvido no crime organizado e outras práticas mafiosas) o filme deu a Marlon Brando um dos mais notáveis papéis da sua carreira – um jovem dividido entre a obediência aos seus ‘controladores’ ou a denúncia das práticas destes. O retrato psicológico de um homem que luta pelo seu amor e que quer ficar em paz com a sua consciência.
Vencedor de oito “Oscares” (entre eles o de melhor filme, melhor realizador, melhor argumento, melhor fotografia, melhor actor e melhor actriz secundária) e Leão de Ouro do Festival de Veneza, embora ‘nomeado’ escapou-lhe o “Oscar” para a melhor música, da autoria de Leonard Bernstein. É essa a partitura que hoje poderá ser ouvida, interpretada pela Orquestra Sinfónica do Porto – Casa da Música dirigida pelo maestro estoniano Olari Elts.
Guerra das Estrelas / Star Wars
No domingo dia 18, a Banda Sinfónica Portuguesa estará na sala Suggia a partir das 12 horas para interpretar a música que John Barry escreveu para África Minha /Out of Africa e a de John Williams para a saga Guerra das Estrelas / Star Wars. A Banda interpretará também composições do seu regente neste concerto, o holandês Johan de Meij, de quem se ouvirá Via Claudia (uma viagem pelos Alpes, que começa numa noite de nevoeiro perto de Veneza e termina ao romper do dia no cume da montanha) e uma homenagem ao cineasta italiano Federico Fellini.
O Gabinete do Dr. Caligari
Para terminar, na terça-feira 20, pelas 19h30 também na sala Suggia, será projectado um dos títulos mais comummente utilizado nos nossos dias em sessões de cinema com música ao vivo: O Gabinete do Dr. Caligari, realizado em 1920 por Robert Wiene. Obra chave do “expressionismo alemão” o filme não vai ser contudo acompanhado com nenhuma das partituras que para ele foram escritas no passado. Com efeito, o Remix Emsemble da Casa da Música, dirigido pelo norte-americano Brad Lubman, vai interpretar música original do compositor austríaco Wolfgang Mitterer expressamente encomendada pela Casa da Música e pela Philharmonie do Luxemburgo.
Para os nossos leitores que, estando ou passando pelo Porto, aliem o gosto pela música a alguma cinefilia, aqui fica esta chamada de atenção.