Incansável, perseverante, generosa e altiva, a Irmã Dulce, canonizada neste domingo pelo Vaticano, foi firme em sua missão de se doar sem reservas aos mais necessitados. A sua teimosia e sede de humanidade transformou um galinheiro num gigantesco complexo de saúde e assistência social num momento em que as pessoas não tinham direito à saúde pública. Eis um grande milagre da Santa dos Pobres e parte do seu legado!
A sua coragem e determinação a fez invadir propriedades desocupadas para abrigar os doentes a quem ela não negava ajuda. Através de sua fé e de suas atitudes, foi fazendo o que podia à medida dos desafios que apareciam à sua frente. Com perspicácia, pediu ajuda dos pequenos comerciantes aos grandes empresários para ajudar os pobres. Como uma mulher de baixa estatura, saúde frágil e diante de uma sociedade tão excludente pôde fazer tanto pelos pobres, humildes, marginais, enfermos e rejeitados? Isso precisa nos render algum tipo de reflexão.
Passaram-se 27 anos da morte da Irmã Dulce e ainda vivemos num cenário de injustiças tamanhas e aprofundamento da pobreza e das desigualdades sociais, conforme as estatísticas. Vivemos um tempo em que talvez o maior desafio esteja na busca por valores humanitários que parecem estar em crise, escassos. Como pode cotidianamente encontrarmos pessoas morando nas ruas sem que aquilo nos provoque profunda indignação? Como podemos ficar de braços cruzados diante das injustiças que acometem o nosso povo todos os dias?
A mulher que assistia ‘Os Trapalhões’, que ouvia Roberto Carlos nas tardes de domingo, comia bolinho de estudante e era apaixonada por futebol (mais brasileira não poderia ser!), se fez santa do povo pobre e os olhos do mundo voltam-se para este acontecimento. O momento difícil que atravessamos no país é propício para evidenciar uma mulher tão forte, sedente de justiça social e que nos mostrou o quanto o amor pela humanidade é revolucionário, e não o ódio. Isto sim precisa ser a nossa arma, pois aqui está a chave para um futuro próspero.
Os depoimentos a respeito da Santa dos Pobres nos mostram que ela se colocava o tempo todo no lugar do outro, sem fazer distinção de origem, raça ou religião, respeitada por Mãe Menininha, Divaldo Franco e pelo Papa. As suas obras beneficiam milhares de brasileiros todos os anos, sendo que o seu hospital se tornou o maior da Bahia, que oferece atendimento 100% público. A certeza que fica é que precisamos de mais corações humanos e sedentos por justiça social, como o coração do nosso Anjo Bom.
por Nágila Maria Azevedo Rocha, Psicóloga, diretora da União da Juventude Socialista-UJS | Texto original em português do Brasil
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