O reconhecimento dos EUA em relação à autoria do crime contra o general Soleimani do Irão demonstra que se tratou de um assassínio premeditado. O crime foi maquiavélico, sem escrúpulos, ordenado por um monstro. Talvez por isso, a Rússia, China e Irão já realizam acções militares conjuntas.
O ataque a Bagdad, meticulosamente planeado pelos EUA (e por Israel), assumido despudoradamente pelo Pentágono, teve como alvos estratégicos e específicos o general Soleimani e o comandante Al-Muhandis (Comandante das Unidades de Mobilização Popular – UMF).
Este ataque, claramente direccionado para o Irão, Iraque e Líbano, irá contribuir de forma dramática para a exponencial de graves conflitos na região.
Portanto, a questão em causa, não é discutir, nem fazer juízos de valor sobre a personalidade e as idiossincrasias associadas ao general Soleimani, como alguns pró-trumpistas se apressaram a fazer, para (tentar) justificar um crime altamente condenável.
Ora, se quisermos fazer juízos de valor, e falar em moral, deixemos de hipocrisias, devemos começar por apontar o dedo aos EUA.
Quem não se recorda dos bombardeamentos atómicos das cidades de Hiroshima e Nagasaki realizados pelos EUA em Agosto de 1945? O único momento na história em que armas nucleares foram usadas contra seres humanos foi sob ordem daqueles que agora decidem intitular de terroristas quem está contra eles.
Esta propensão dos EUA (e de alguns países europeus) pelas bombas nucleares é crescente e sabe-se que haverá actualmente mais de 100 bombas nucleares colocadas pelos EUA em vários países da Europa, nomeadamente na Itália, Alemanha, Holanda, entre outros.
No caso de Hiroshima a destruição da cidade foi incalculável, ficou um campo totalmente destruído, com poeira tóxica, com mais de 60 mil mortos, porque a explosão ocorreu no ar. Se tivesse ocorrido em terra não haveria sobreviventes porque a onda de choque espalhar-se-ia de forma horizontal.
Obviamente, em 2020, para morrermos todos não serão necessárias tantas bombas atómicas como essas que o monstro do Trump anda a espalhar pela Europa e por outros cantos do mundo.
Portanto, no actual contexto político-militar, face à gravidade da situação, em primeiro lugar, urge denunciar e condenar um acto criminoso que retirou a vida a uma figura político-militar de alto prestígio na região, o segundo homem do Irão.
Seguidamente, denunciar que houve uma clara violação da soberania do Iraque, uma grave violação do direito internacional, que já está a provocar uma escalada da violência no Médio Oriente (após o ataque do EUA ao Iraque tem havido rebentamentos na Zona Verde de Bagdad) e a originar vários posicionamentos políticos, geo-estratégicos e militares.
Rússia, China, Irão e Iraque reagem à «Declaração de Guerra» dos EUA
A «ordem para matar» Soleimani, como qualquer pessoa de bom senso concordará, repito, tratou-se de um comportamento maquiavélico e sem escrúpulos de Donald Trump.
Obviamente, entre outros aspectos, como era do seu interesse e dos republicanos, desde logo, parou-se o julgamento de impechement de Trump porque os democratas, também eles, ficam agora mergulhados no imbróglio criado com os ataques militares dos EUA ao Iraque.
A «ordem para matar» o general Soleimani, até na opinião de Philip Gordon, antigo responsável da Casa Branca para o Médio Oriente e o Golfo Pérsico no tempo de Obama, corresponde a uma «Declaração de Guerra» dos EUA (Fonte: BBC News).
As consequências do assassinato do general Soleimani começaram a ganhar forma e a assumir contornos complexos, nomeadamente, no Iraque.
Neste Domingo, dia 5, em sessão extraordinária o Parlamento iraquiano decidiu-se pela expulsão das tropas americanas do país.
A deliberação tomada reflecte o ódio aos americanos e foi a primeira represália ao assassinato internacional do general Soleimani e do comandante iraquiano Mahdi al-Muhandis, uma humilhação para a grande América de Donald Trump.
A expulsão do território nacional do Iraque das tropas americanas, recordo que existem perto de 5 mil tropas dos EUA, foi uma retaliação, mas, no terreno, tudo poderá acontecer contra a Zona Verde onde está instalada a embaixada dos EUA em Bagdad.
Para além da expulsão das tropas americanas, a resolução refere que o governo deve proibir que as forças estrangeiras usem a terra, espaço aéreo ou água por qualquer motivo e que sejam cancelados quaisquer pedidos de ajuda do Iraque ao governo americano.
Entretanto, o Irão também já anunciou que irá retomar o programa nuclear que tinha interrompido.
A vingança do Irão é tão certa que o Major-General Mohsén Rezai, em Bagdad, já avisou os EUA que Israel será imediatamente atacada se os EUA concretizarem mais agressões militares contra o Irão depois de se consumar a vingança do assassínio do general Qassem Soleimani.
A Rússia, a China e o Irão realizaram manobras militares conjuntas, uma acção que agradou ao presidente do Irão, Hassan Rouhani, tendo-as considerado “complexas” e que tiveram “importância estratégica”.
Estas manobras assumem relevância especial porque acontecem no actual contexto, na medida em que segundo Rouhani “são duas super-potências aliadas às forças navais dos guardiões da revolução islâmica” (Fonte: Press TV)
Nos últimos dias de Dezembro do ano de 2019 as marinhas da Rússia, China e Irão realizaram exercícios com navios de guerra no Oceano Índico e no Golfo de Omã.
A Rússia e a China declararam que tomarão medidas conjuntas para resolver pacificamente os conflitos.
Donald Trump, sempre arrogante, igual a si próprio
O ataque ao Iraque para o assassínio do general iraniano foi mais uma demonstração da ambição norte-americana do seu poderio militar e de afirmação dos interesses imperialistas, que ultrapassam e violam o direito internacional.
Donald Trump, sempre arrogante, igual a si próprio, com mais este triste espectáculo baseado no seu poder considera-se no direito de estabelecer um «novo direito», de intervir, julgar e matar, em qualquer parte do mundo.
Neste quadro dramático haverá, seguramente, uma resposta à «Declaração de Guerra» de Donald Trump. Os seguidores do Islão não perdoarão aos EUA os assassinatos de Soleimani e Al-Muhandis.
E se dúvidas houver, basta pensar nos milhões de iranianos que saíram às ruas e nas dezenas de deputados do Irão que se posicionaram frente ao Congresso neste Domingo, dia 5, a gritar, “morte à América”.
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