Mas poderá também ser registrado, a depender da ótica que se queira analisar, como o ano em que dois presidentes foram depostos, naturalmente por razões distintas, pois, na prática o “governo” de Michel Temer já acabou.
E não é apenas pelo volume de corrupção praticado pela cúpula de seu “governo”, incluindo ele próprio, segundo os delatores da construtora Odebrecht. Suas dificuldades vão além disso.
- Está na baixíssima popularidade do presidente que, se nunca existiu, agora chegou ao nível crítico;
- Na percepção popular, cada vez mais evidente, de que foi vítima de uma fraude, na qual lhe prometeram uma solução mágica para os problemas do país tão logo a presidenta Dilma fosse afastada e agora lhe apresentam uma fatura impagável;
- No desastre da economia que, além de não apresentar sinais de recuperação, indica sintomas de grave aprofundamento da crise econômica, incluindo a falência dos estados e uma legião de 12 milhões de desempregados;
- E, principalmente, pela agenda regressiva, de gravíssimo ataque aos direitos dos trabalhadores e da população de maneira geral.
Dentre essas medidas se destacam a PEC que congela investimentos por 20 anos, a reforma da CLT e a reforma da previdência, na qual Michel Temer (PMDB) e seus aliados (PSDB, DEM, PPS, PSB, PSD, PP, PR, PTB) querem arrancar dilheiro do pvo para entregar aos especuladores do mercado financeiro.
E para desespero da direita há mais duas notícias devastadoras que devem apressar o fim real do “governo” Temer, na medida em que simbolicamente ele já acabou.
A primeira é a pesquisa de avaliação de Temer, na qual fica evidente que além dele só ter o apoio de 10% da população, mais de 63% querem ele fora e que se convoque uma nova eleição direta, ou seja, que se devolva ao povo a prerrogativa de escolher quem lhe governará, tal qual nós propusemos como solução do impasse que culminou com o golpe contra a presidenta Dilma.
A segunda é outra pesquisa, que acaba de ser divulgada, relativa a intenção de votos para as eleições presidenciais de 2018. A situação da direita é crítica. Além de não terem um candidato competitivo, constatam que Aécio desaba, e que Lula é o 1º em todos os cenários, secundado por Marina Silva.
Mas vai piorar. Diante do escândalo de corrupção que atinge toda a equipe de Temer, ele procura acelerar as reformas antipovo para tentar acalmar o “deus mercado” – o governo que de fato manda – procurando ganhar alguma sobrevida, sem levar em conta que o povo não está disposto a pagar essa fatura passivamente.
Especialmente quando se sabe que há alternativa. A previsão de déficit da previdência para 2017 é de R$ 181 milhares de milhões, segundo a peça orçamentária do próprio governo, e na qual estão reservados R$ 870 milhares de milhões para pagar juros aos seus amigos banqueiros.
Eis porque a tendência é de agravamento da crise. A direita tentará, como sempre, fazer com que o povo mais simples pague a conta de sua farra com os banqueiros.
Quem não deseja o caos que está anunciado deve se empenhar por Diretas já!
* Eron Bezerra | Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB
Texto original em português do Brasil