Soube-se com estrondo que a firma de advogados Mossak Fonseca, algures no Panamá, fabrica empresas de fachada para que os ricos escondam o seu dinheiro dos impostos. É legal, na maioria dos casos, dizem os jornais que investigam os 11 milhões de documentos “gamados” ao escritório dos causídicos.
Além de umas referências a líderes mundiais de segunda linha e a confirmação dos paraísos usurários que são a Rússia e o Médio Oriente, nada mais espantará a maioria da populaça. Nós não somos do clube da Mossak Fonseca, nem dos muitos Panamás que o mundo tem.
Como as operações são ética e moralmente condenáveis, mas não ilegais, qualquer atentado numa cidade europeia ou uma tragédia daquelas à antiga farão o favor de obrigar o escândalo a desaparecer. Aos que pensam que “nada ficará como dantes” é preciso dizer que, infelizmente, tudo será “como dantes”: os principais nomeados pelo escândalo são os legisladores e reguladores. Estes não têm interesse nenhum em mudar as regras.
Por isso, tal como em todos os escândalos da Wikileaks e de Edward Snowden, o mundo seguirá a sua paulatina destruição através de uma organização desequilibrada. A escolha dos eleitores é clara: votam consistentemente nos legisladores que nada se opõem a estas brincadeiras do senhor Fonseca e do mestre Mossak.
Não se espera, por isso, grande coisa. Os jornais farão o seu trabalho mas o maxilar regressa facilmente ao sítio, sem espanto. Porque a gente sabe que anda a ser roubada há milénios e que o ouro está sempre escondido nos ídolos.
—
Nota: tal como anunciado a 1 de Abril, o cronista mentirá livremente sobre a frequência das suas crónicas.