(1921 – 1991)
Foi um grande combatente contra a ditadura fascista, que esteve preso por várias vezes. Mesmo aqueles que não comungavam dos seus ideais comunistas viram sempre neste portalegrense um homem de extraordinária coragem, de um enorme valor humano e admiravam-lhe a sólida cultura política.João Belmiro Coentro da Silva nasceu em Portalegre em 19 de Março de 1921 e era ainda um jovem electricista quando começou a sua actividade política em Portalegre, na Liga Republicana. Em 1944 aderiu ao Partido Comunista Português e um ano depois integrou o M.U.D..
Preso político
É preso pela primeira vez com 24 anos, em Julho de 1945 e, desde aí até 1956, a sua vida decorreu entre o Aljube, Caxias e Peniche. Nessa primeira prisão foi libertado em Março de 1946, por ter beneficiado de uma amnistia (Dec. de 1946), mas seria ainda preso outras vezes. Em Maio de 1947 e novamente em Fevereiro de 49 (juntamente com outro portalegrense, Jorge Arranhado) – sendo libertado em Setembro de 1949, com caução, para ser julgado em Tribunal Plenário, em Março de 1950.
Condenado então na pena de 2 anos e medida de segurança[1] ou, em alternativa, a 3 anos de degredo, deu entrada na cadeia de Peniche em Janeiro de 1951 para cumprimento desta pena. Porém, em 1954, viu a medida de segurança ser prorrogada por 3 anos. Foi libertado em Dezembro de 1956, mas em liberdade condicional, e nas seguintes condições: “não acompanhar pessoas de mau porte, designadamente as que professem ideias subversivas, não assistir a reuniões de carácter político e não sair da área do Concelho onde residia».
Apesar disso, João Coentro da Silva participa activamente na Comissão da candidatura de Norton de Matos e, no futuro, vai ter uma acção determinante junto de muitos jovens do Concelho, transmitindo-lhes formação política e inculcando-lhes vontade de luta pela liberdade e pela democracia, numa altura em que era muito perigoso fazê-lo.
Luta por convicções
Em 1973 (ainda que protegido por pseudónimos), tem uma intervenção decisiva no jornal “A Rabeca”, de Portalegre, considerado na altura um dos grandes exemplos da resistência à censura na Imprensa Regional.
A partir do 25 de Abril participou activamente na dinamização do PCP no Concelho de Portalegre, tendo sido membro da sua Comissão Distrital e da Comissão Concelhia.
Após prolongada doença João Silva morreu, desaparecendo um lutador, um democrata, um portalegrense de grande coragem, que deixou a memória de alguém capaz de sofrer toda a sua vida por aquilo em que sempre acreditou e pelo qual deu o melhor de si. Foi a sepultar no dia 14 de Maio de 1991, coberto pela bandeira do PCP, rodeado de flores vermelhas, e acompanhado à sua última morada por inúmeros portalegrenses amigos, camaradas e admiradores.
João Coentro da Silva faz intervenção. Na mesa José Vitoriano (dirigente do PCP)
No 1.º de Maio de 1974, discursando junto à Fonte do Rossio, em Portalegre
[1] Na prática, as medidas de segurança, que vigoraram até ao 25 de Abril, visavam a prisão perpétua para presos políticos. A PIDE (por sua iniciativa ou através do Ministério do Interior) propunha, os tribunais plenários deferiam, a PIDE, a seguir, executava e prorrogava arbitrariamente.
A legislação de 1947 e 1949 (…) visou legalizar o que, na realidade, nunca deixara de ser uma prática constante (…), relativamente à detenção por tempo indeterminado e sem pena, ou para além desta. A partir de então, a política criminal do Estado Novo passou a assentar em dois pilares: na prisão preventiva e nas medidas de segurança. Além de poder propor a aplicação e prorrogação de uma medida segurança de internamento, após o cumprimento da pena a que os tribunais condenavam os detidos políticos, o director da PIDE tinha ainda competência para aplicar «provisoriamente» uma medida de segurança, durante o período de instrução do processo, antes de o preso ser julgado.
Irene Pimentel, “O Tribunal Plenário, instrumento de justiça política do Estado Novo”
Fontes (facultadas por António Garcia):
- Biografia de João Coentro da Silva partilhada na página do facebook «Caras de Portalegre»
- Ficha da PIDE de JCS