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Sábado, Dezembro 21, 2024

João Gilberto | Explode a bossa nova

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

O ano de 1958 foi um marco para a música popular brasileira. Em julho, Elizete Cardoso lançou o álbum “Canção do Amor Demais”, contendo músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. No entanto, o disco entra na história da música popular brasileira por outro motivo: João Gilberto acompanha Elizete ao violão nas faixas “Chega de Saudade” e “Outra Vez”, as primeiras gravações da bossa nova. Em agosto, João lança o single de “Chega de Saudade” e “Bim Bom”, gravado na editora Odéon, cujo maestro de serviço era Tom Jobim. No disco participam ainda Dorival Caymmi e Aloísio de Oliveira. Este é o disco que lança a bossa nova, tornando-se de imediato um sucesso comercial. A gravação tem arranjos de Tom Jobim, participação de orquestra e de Milton Banana, entre outros artistas. João inovou ao pedir dois microfones para gravar, um para a voz e outro para o violão. Desse modo, a harmonia tornou-se mais clara para os ouvintes. O disco foi um sucesso de vendas e alcançou rapidamente o primeiro lugar nas rádios. No ano seguinte João lançou mais um single, dessa vez contendo “Desafinado”, de Jobim, e “Hô-bá-lá-lá”, composto por si. Em março desse ano é lançado o seu primeiro álbum, “Chega de Saudade”, muito aguardado e que rapidamente se torna um sucesso de vendas.

“Chega de Saudade” afirma a nova batida do violão e torna-se rapidamente moda entre os jovens das escolas secundárias e das universidades, encantados com o som do violão de João Gilberto. Os jovens enchem as academias de violão de Copacabana para aprender a nova batida e as músicas que fazem parte da banda sonora dos anos do governo liberal, progressista e otimista de Juscelino Kubitschek, o “presidente bossa nova”. O Brasil, depois de ganhar pela primeira vez o mundial de futebol na Suécia, atravessa um ciclo de progresso e desenvolvimento nunca visto, com a construção de Brasília em apenas quatro anos, a industrialização, a televisão, as novas estradas e fábricas: os brasileiros apaixonavam-se pelo futuro.

Todos querem surfar a onda e o sucesso da bossa nova. A publicidade e a imprensa adoraram o rótulo. Surge o carro bossa nova, o apartamento bossa nova, o fato bossa nova, com um casaco e duas calças. Tudo é bossa nova nesse Brasil provinciano, deslumbrado pelo futuro. Velhos cantores da Rádio Nacional gravam bossa nova tentando apanhar boleia no comboio do sucesso. Em busca da reciclagem redentora, tudo o que é velho passa a afirmar-se como bossa nova.

Conforme refere Tom Jobim na contracapa do álbum, “Em pouquíssimo tempo, João influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores”. São muitos os jovens, da geração de João e da geração seguinte, que depois de ouvirem “Chega de Saudade” se decidem pela carreira de músico. Entre estes estão Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Francis Hime, Roberto Carlos, Jorge Ben Jor, Paulinho da Viola e muitos outros. O disco cria a mais completa reviravolta na música popular brasileira, que sintetiza nos seus aspetos fundamentais: ritmo, harmonia, batida de violão e técnica de canto.

João Gilberto e Tom Jobim

 

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Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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