Apesar de um estilo revolucionário, João não rompe com a música do passado, pois grava nos seus discos velhas composições de Ary Barroso, Geraldo Pereira, Dorival Caymmi ou Orlando Silva.
Por isso João Tatit lhe chama “re-compositor”, transformando velhas em novas canções. Os arranjos de Tom Jobim guiam-se pelo violão de João, que concentra a fluidez rítmica e melódica, introduzindo acordes invertidos executados em bloco. Com “Chega de Saudade” João Gilberto deixa para trás o período pré-bossa e parte para a sua consagração.
Ainda em 1960, João Gilberto gravou seu segundo álbum “O Amor, o Sorriso e a Flor”, que no ano de 1962 chegou aos Estados Unidos, dando início à exportação da MPB para a América. Mas o álbum tinha outra inovação: na contracapa trazia as letras das músicas, uma novidade que passou a ser característica dos discos brasileiros.
Em 1961 João grava seu terceiro álbum, “João Gilberto”, com orquestra sob regência de Tom Jobim. Os velhos sambas voltam, mas ritmica e harmonicamente alterados, soando como novos sambas. João volta a inovar nos efeitos, estreando o rubato, no qual se apressam ou encurtam frases, cantando em tempo ligeiramente diferente do acompanhamento, roubando algum tempo nas notas para depois aguardar com o violão e seguir normalmente. A batida chega aos Estados Unidos pela mão de Lena Horne, que canta “Bim Bom” em português no Copacabana Palace, dizendo-se fã de João Gilberto. Herbie Mann declarou que João Gilberto atraiu a atenção dos americanos sobre a música brasileira, considerando-o um fenómeno no jazz.
Em 1962 ocorre o espetáculo “O Encontro” no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana. Para além de João, participam Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Os Cariocas, Milton Banana e Octávio Bailly, sob a direção de Aloísio de Oliveira. Esta foi a única vez que Vinicius, João e Tom atuaram no mesmo palco, naquele que muitos consideram o mais importante espetáculo da história da bossa nova.
Estes três álbuns e o encontro no Au Bon Goumet são seminais não apenas na bossa nova, mas também no jazz e em toda a música moderna. A melodia, a harmonia, a batida, o fraseado, o rubato e todas as técnicas usadas por João Gilberto passam a constituir o léxico de uma boa parte da produção musical a partir desse momento. Algo de profundamente inovador, a simplicidade das pequenas coisas trazida pela mão de um grande mestre.
A atitude de Gilberto ajudou a bossa nova a expandir-se do Rio de Janeiro para todo o mundo, especialmente após o lançamento de “Getz/Gilberto”, em 1964. Este álbum, em parceria com o saxofonista norte-americano Stan Getz, deu a conhecer o género ao público norte-americano. Ao público de massas, bem entendido, pois alguns ouvidos mais atentos, como Dizzy Gillespie, Charlie Byrd e Miles Davis, já conheciam há alguns anos o estilo de João Gilberto. O disco foi o segundo mais vendido nos EUA nesse ano e venceu quatro Prémios Grammy. Outros intérpretes, como Frank Sinatra, não escaparam à sua magia. Deve-se a “Getz/Gilberto” e às dezenas de artistas que o disco influenciou o reconhecimento internacional da bossa nova. Um exemplo dessa notoriedade é “Garota de Ipanema”, tema facilmente reconhecível em qualquer jantar romântico, passeio pela praia ou elevador de centro comercial. É por causa de “Getz/Gilberto” que a canção quase atingiu um estatuto de património imaterial da humanidade…
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