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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Jornalista Rafael Marques eleito herói da liberdade de imprensa

Por ter “enfrentado décadas de assédio e processos jurídicos ao revelar a corrupção e os abusos dos direitos humanos em Angola”, o Instituto Internacional da Imprensa (International Press Institute – IPI) decidiu homenagear, este ano, o jornalista e activista angolano Rafael Marques.

O autor de “Diamantes de Sangue” foi nomeado o 70º Herói Mundial da Liberdade de Imprensa também por fazer “um jornalismo de vigilância que os meios controlados pelo Estado do país não conseguem concretizar, proporcionando um serviço essencial ao público angolano”, pode ler-se no comunicado divulgado esta terça-feira.

A diretora-executiva do IPI, Barbara Trionfi, saudou o jornalista “pela sua dedicação à procura da verdade num ambiente implacável para a liberdade de imprensa”.“Apesar da repressão sistemática dos meios independente em Angola, Rafael Marques tem conseguido – correndo grande risco pessoal – fazer incidir uma luz no abuso de poder ao nível mais elevado com coragem e persistência”, acrescentou.

Barbara Trionfi destaca ainda: “Angola deve acabar com o seu assédio ao senhor Marques e a todos os jornalistas em Angola. Se o Presidente Lourenço leva a sério a mudança, ele deve permitir que meios críticos e independentes floresçam”.

Recorde-se que Rafael Marques e o colega Mariano Brás Lourenço arriscam quatro anos de prisão por calúnia e difamação na sequência de um artigo, publicado em 2016, que envolve o então Procurador-Geral da República angolana, João Maria de Sousa, num negócio alegadamente ilícito de aquisição de um terreno.

Mas este é apenas um dos episódios em que o activista angolano, de 46 anos, enfrenta corredores da justiça e perseguições. Os casos de “ameaças” e “assédio físico” têm sido uma constante na sua carreira. Seis meses de pena suspensa por difamação foi por exemplo o “prémio que ganhou” com a publicação do livro “Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola”, publicado em 2011, na qual “detalha alegações de homicídio, agressão, detenção arbitrária e deslocamento forçado de civis em relação à lucrativa indústria de mineração de diamantes do país”, como lembra Trionfi.

Apesar da repressão sistemática dos meios independente em Angola, Rafael Marques tem conseguido – correndo grande risco pessoal – fazer incidir uma luz no abuso de poder ao nível mais elevado com coragem e persistência”

Rafael Marques já reagiu à nomeação ao dizer que está “profundamente honrado e agradecido”. “Sinto-me honrado porque este prémio vem num momento em que estou sendo julgado por expor corrupção de altas instâncias, enquanto o presidente Lourenço afirma estar lutando contra isso. No entanto, é inadequado receber um prémio internacional por fazer o trabalho básico de expor os males do meu próprio país a fim de corrigi-los para o bem comum”, sublinhou o fundador do site de investigação Maka Angola.

O Prémio Herói Mundial da Liberdade de Imprensa – o primeiro entregue a um angolano – vai ser entregue, juntamente com o prémio Free Media Pionee, a 22 de Junho em Abuja, Nigéria. Na edição de 2017, o galardão foi atribuído ao jornalista e bloguer etíope Eskinder Nega, que foi libertado em Fevereiro último, depois de ter passado quase seis anos na prisão sob acusações fraudulentas de terrorismo.

O IPI é o organismo mundial mais antigo dedicado a trabalhar na luta pela promoção do direito à informação, constituindo uma rede global de jornalistas e editores que trabalha para salvaguardar a liberdade de imprensa e promover a livre circulação de notícias e informação, bem como a ética e o profissionalismo.

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