José Sócrates falou à TVI para avisar que vai “reduzir a pó qualquer acusação” do Ministério Público (MP), reafirmando inocência no processo Marquês. Desta vez, Sócrates disse várias vezes a palavra Estado para se referir ao MP e entende que, como não há acusação dentro dos prazos, o Estado deve explicações ao país. O ex-primeiro-ministro do PS foi detido há um ano no aeroporto de Lisboa quando chegava de Paris, por suspeita da prática de crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito.
“Não apresentam provas porque não as têm, nem nunca as tiveram porque é impossível provarem aquilo que nunca aconteceu. Têm muitas opiniões mas não têm nem factos nem provas”, afirmou José Sócrates para justificar que o MP ainda não tenha deduzido a acusação, cujo prazo terminou a 19 de Outubro. “ E passam por cima desses prazos como se nada fosse, como se o Estado tivesse o direito de me manter sob suspeita indiferentemente dos prazos”, acusou o ex-governante. E considerou que chegou a hora do Estado assumir responsabilidades. “No meu ponto vista quem deve agora uma explicação ao país é quem teve esta atitude, quem tomou as decisões”.
Um ano depois de ter sido preso, José Sócrates reafirma que não tenciona desistir de reclamar a inocência. “Estou cada vez com mais energia, com mais vontade, com mais determinação, para lutar e preparar-me para reduzir a pó qualquer acusação que me possam fazer. Tudo aquilo que têm dito são meras alegações, absolutamente infundadas, são injustas, são absurdas e são falsas”, afirma.
“Usaram toda a selvajaria que puderam”
E um ano depois, Sócrates recorda que foi preso “abusivamente” e que as autoridades “usaram toda a selvajaria que puderam” contra ele e até diz compreender que “muita gente não tivesse acreditado no primeiro momento porque também eu, se tivesse na posição das pessoas, não acreditaria que fosse possível fazer-se uma coisa como a que foi feita”. Sócrates recordou as circunstâncias da detenção a 21 de Novembro de 2014, “por ter mandado um email às autoridades a dizer que corre uma investigação contra mim e estou pronto a fazer um depoimento, regresso ao país com essa intenção e detêm-me para interrogatório”.
E um ano depois disse: “isto foi uma violência injustificada por parte do Estado e as violências injustificadas por parte do Estado são ilegais”.
Sócrates repetiu. “Um ano depois, o Estado, o Ministério Público não apresenta nem os factos nem as provas com base na qual me fez imputações gravíssimas que lesaram o meu bom nome, a minha dignidade e lesaram também politicamente o governo anterior a que eu presidi. Espero que as autoridades tenham agora a decência de dar uma explicação ao país”
José Sócrates está indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito. Esteve em prisão preventiva na cadeia de Évora quase dez meses. A 4 de Setembro último passou para prisão domiciliária com vigilância policial. A 16 de Outubro passou a ter apenas Termo de Identidade e Residência, proibido de sair do país e de contactar com os restantes arguidos do processo Marquês.
Nestas declarações à TVI, disse que, nessa altura, o Ministério Público justificou a decisão com o facto de estarem “consolidados os indícios recolhidos nos autos, bem como a integração jurídica dos factos imputados”. Até agora o MP não deduziu acusação e o procurador Rosário Teixeira terá pedido mais tempo para investigar alegando que ainda estão por analisar mais de cinco mil ficheiros informáticos e faltam também ouvir mais testemunhas.