Nesta quarta-feira (23), o roteiro dos setores pró-imperialistas na Venezuela previa o seguinte: massivas marchas opositoras tomariam conta das ruas.
Estas marchas sofreriam “ataques” de simpatizantes do chavismo, provocando dezenas de mortes e, em efeito cascata, uma onda de indignação interna e externa. Diante de um governo acuado, seria neste ambiente que Juan Guaidó seria proclamado presidente interino do país pela opositora Assembleia Nacional sendo imediatamente reconhecido pelos países imperialistas e seus satélites. Embora a situação seja, de fato, muito grave e a maior parte do roteiro golpista tenha se realizado, outra parte importante não se concretizou, o legítimo presidente Nicolás Maduro continua no poder e a luta está distante de um desfecho.
Não aconteceram as dezenas de mortes planejadas pois o governo bolivariano, com dias de antecedência veio a público e denunciou, com nomes, dados e provas, os planos criminosos que a extrema-direita preparava. O governo também não ficou acuado nesta quarta-feira e a população que apoia Maduro igualmente saiu às ruas e, assim como a oposição, realizou atos massivos, com a diferença de que estes atos dos bolivarianos são tornados invisíveis pela mídia hegemônica brasileira. O Estado venezuelano tampouco está a serviço dos golpistas. A Sala Constitucional do Tribunal de Justiça (TSJ) o equivalente ao STF brasileiro, condenou a tentativa de golpe e chamou a coisa pelo nome: “usurpação”. Em declaração publicada pela Telesur o juiz do TSJ, Juan José Mendoza, indicou, logo após o pretenso juramento do “novo presidente”, que a Assembleia Nacional “viola expressamente o artigo 236, números 4 e 15, pois pretende usurpar a competência do Presidente da República na direção das relações exteriores do Estado”. Ele também ratificou a inconstitucionalidade dos atos da AN e constatou que ela continua em desacato à Constituição. O TSJ determinou que seja investigada esta ilegalidade e seus responsáveis sejam punidos.
Segundo o site G1 os seguinte países reconhecem Juan Guaidó como novo presidente: Estados Unidos, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, além da OEA. Certamente outros seguirão na mesma linha que tenta isolar Maduro e justificar uma intervenção militar, sonho antigo do imperialismo, facilitado pela existência de governos servis ao império e em alguns até “com relação carnal” com Trump como é o caso dos fanáticos de extrema-direita Bolsonaro e seu patético chanceler.
Esta, no entanto, não é uma situação nova que a Revolução Bolivariana enfrenta. Em 2002, depois de um golpe que prendeu Hugo Chávez, o presidente golpista, Pedro Carmona Estanga, foi reconhecido por Espanha, Estados Unidos, El Salvador, Colômbia, Equador, Costa Rica e Nicarágua e só não foi reconhecido por mais países porque o golpe logo foi derrotado. Lembramos igualmente que, no início de 2017 esta mesma Assembleia Nacional declarou “vago” o cargo de presidente e com pompa e circunstância “assumiu o poder”.
A situação, repito, é grave. É preciso que o campo democrático, popular e progressista saia em defesa da Venezuela, da sua soberania, e apoie os esforços que o governo Nicolás Maduro empreende para uma solução pacífica para a crise. Mas, por outro lado, o comando da Revolução Bolivariana tem se mostrado capaz de responder com coragem e amplitude no momento de maiores ataques e o povo venezuelano mais de uma vez já surpreendeu o mundo por sua capacidade de resistência.
No momento em que escrevo esta matéria, o presidente Nicolás Maduro anuncia, do balcão do Palácio Miraflores, sede oficial do governo, que a Venezuela está rompendo relações com os EUA com prazo de 72 horas para retirada de todo o pessoal do corpo diplomático estadunidense. A hastag da transmissão do pronunciamento é: “As Ruas São do Chavismo“.
Mais cedo, a vice-presidenta, Delcy Rodríguez, em meio a uma grande manifestação de apoio a Maduro, declarou: “Na Venezuela há um governo e um povo que defende a paz e a soberania”.
A mídia hegemônica brasileira irá a partir de agora fazer seu habitual trabalho de mentiras e distorções, para deleite de toda a direita. Mas, em se tratando da Revolução Bolivariana, aconselho a ouvir o saudoso Belchior:
Não cante vitória muito cedo, não
Nem leve flores para a cova do inimigo”.
por Wevergton Brito Lima, Jornalista, Secretário-Geral do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) | Texto em português do Brasil
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