Entrevista com Julianne Moore
É raro (se não inédito) vermos Julianne Moore num papel de franchise. Mas mesmo num filme comercial consegue manter intacta o seu estatuto de grande actriz. Imperial como a líder da Revolução. E sempre generosa nas entrevistas. Sim, votamos em Julianne Moore para Presidente!
Não se farta de dar entrevistas? Acha que este é um lado mau da sua profissão?
Não, não. Estamos todos no mesmo barco… Você faz as perguntas e eu respondo. Estamos na mesma situação. E estando em Cannes é sempre um privilégio poder falar sobre filmes. É sempre bom falar dos filmes.
Como actriz não se farta de estar sempre a dizer a mesma coisa?
(risos) O que faço é procurar não me repetir muito e dar respostas de uma forma interessante. Em algo que se possa falar.
Mas neste caso, trata-se de um filme bem diferente dos que costuma trazer a Cannes?
Sim, bem diferente. Mas participar em Hunger Games é um desafio e privilégio imenso. Desde logo, é uma história tremenda. Os livros são muito bem escritos e o Francis Lawrence é um óptimo realizador. Eu senti a obrigação de ser muito fiel à personagem do livro, isto porque a legião de fãs é tão vasta e muito ardente. Por isso todos desejamos dar-lhes aquilo que imaginam.
E no que diz respeito à sua personagem da Presidente Alma Coin?
Sim, desde logo ser muito específica na sua maneira de ser e como se apresentava. Nos livros e nos filmes anteriores a Katniss vem a saber que existe outro Distrito, que é o Distrito 13. Ela descobre que estas pessoas viveram underground durante 75 anos, que não têm comida e foram dizimadas pela guerra e doenças. Ela é a líder da Revolução. Foi o arco político do poder que quis encarnar.
Sente que nesta altura haverá lugar para uma mulher Presidente nos EUA?
Sem dúvida! Mas não acho que este filme possa ter alguma influência… (risos)
Não, mas acha que uma mulher da política americana seria bem-vinda neste momento?
É interessante a pergunta. Só depende de quem sejam essas mulheres, não é? Acho que estaríamos errados se pensássemos a política através do género. Acho que temos de ir para além do género. Temos de pensar em seres humanos e na sua competência para governar. Mas, sim, acho que é tempo de termos uma mulher Presidente. Até porque existem muitas mulheres na política com essa capacidade.
Sente que é um papel em que dá também um pouco de si própria?
Sim, apesar de ser completamente o oposto do que eu sou. É, nesse aspecto, um filme bastante negro.
Como reagiram os seus filhos (Caleb, 17, e Liv, 12) a esta personagem? Pelo menos, este era um filme que poderiam ver…
Sim, muitos dos meus filmes eles não vêem. Pois, as minhas personagens não costumam ser, digamos, para todos os públicos… Mas eles adoram os livros da Suzanne Collins. E, claro, gostam também imenso da Jennifer Lawrence. A Liv até me perguntou: “Não acredito como conheces esta gente?…”
Quando escolhe uma personagem, existe algo em específico que procura?
Talvez seja um pouco cliché, mas é mesmo a história e onde ela poderá levar a minha personagem e de como reflecte a experiência humana. E, por outro lado, se eu me quero ver nesse mundo.
É para si importante o nome do realizador?
Não me interessa muito o nome do realizador. Mas sim a habilidade de contar uma história. Por exemplo, o Francis Lawrence (realizador de Hunger Games) é um realizador incrível, muito talentoso. Foi uma sorte poder trabalhar com eles.
Sente que, com cada novo trabalho, cresce na sua profissão? Sente que é algo que acrescenta ao seu trabalho?
Sim, espero que sim. Felizmente tenho a possibilidade de pensar algum tempo num mundo que não é o meu. Isso permite-me aprender algo sobre ele.
É verdade que a Julianne escreve livros para crianças. Mas já pensou em algo para cinema?
É verdade que adoro escrever histórias para crianças. Adoro ler, mas não sei se conseguiria escrever algo. Talvez achasse mais interessante a possibilidade de adaptar uma novela. Essa ligação dá-nos alguma vantagem.
E presumo continua a seguir o mundo da moda?
Claro!
Mas para além dos vestidos de marca, não aprecia também o à-vontade de vestir uma calças de ganga?
Mas isso é que é bom. Existe um elemento de fantasia naquilo que fazemos e que nos permite até penetrar dentro dele. É claro que não é real, mas é divertido.
Como é que reflecte neste mundo da moda em que a idade e ser jovem é muito relevante?
Por exemplo, eu represento a L’Oréal. E o que eu acho notável nesta marca é que se fazem representar por mulheres de todo o mundo, diferentes etnias, idades muito variadas. E é a única grande companhia que conheço que faz isso.
Acha que a beleza está para além disso?
Mas é mesmo essa a mensagem da L’Oréal! (risos)
E o que me diz do uso que as grandes estrelas têm devido ao Photoshop? Já teve alguma experiência em que não se reconhece bem no produto final?
Eu não, mas a minha filha sim. Que me disse: “essa não és tu!” Não tinha qualquer ruga.
A sério?!
Sim. Mas depende da publicação. Depende também do território.
E não tem qualquer controle sobre a sua imagem?
Não, depois da sessão fotográfica acabou-se.
Paulo Portugal, em Cannes