70º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAN SEBASTIÁN
Termina hoje o Festival de Cinema de San Sebastián de 2022. Das decisões dos diferentes júris daremos notícia em próxima oportunidade. Entretanto deixamos aqui uma referência aos habituais prémios de carreira atribuídos pelo certame, os Prémios ‘Donostia’, designação basca da cidade de San Sebastián.
Desta feita a escolha recaiu na actriz francesa Juliette Binoche (que de resto foi a cara do cartaz oficial do Festival) e no realizador canadiano David Cronenberg.
Com um percurso que começou no teatro Juliette Binoche é detentora de uma filmografia notável. Para além de ter trabalhado com muitos dos principais realizadores franceses – por exemplo Jean-Luc Godard, Louis Malle, Jacques Doillon, André Techiné, Leos Carax, Patrice Leconte, Jean-Paul Rappeneau, Bruno Dumont ou Olivier Assayas -, participou em obras de cineastas como K. Kieslovski, Chantal Ackerman, Abbas Kiarostami, Koreeda, Lasse Hallström, John Boorman, Michael Haneke, Abel Ferrara, Amos Gitai, Naomi Kawase ou Hou Hsiao-Hsien.
Com a sua interpretação em “O Paciente Inglês” de Anthony Mingella obteve em 1997 o ‘Oscar’ de melhor actriz secundária. Juliette Binoche esteve já várias vezes no Festival de San Sebastián. A última foi em 2019, com o japonês Hirokazu Koreeda, para a apresentação de “A Verdade”. No ano passado “Ouistreham” de Emmanuel Carrère, filme em que é protagonista, participou na secção ‘Perlak’ e conquistou o Prémio do Público para a melhor película europeia.
Juliette Binoche passa agora a integrar um impressionante lista de dezenas de personalidade que receberam este prémio em anos anteriores. Se quisermos citar apenas as actrizes francesas encontramos os nomes de Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Marion Cotillard.
A propósito da atribuição do prémio Donostia a Juliette Binoche o festival programou “Avec Amour et Acharnement” filme de Claire Denis, “Urso de Prata” para a melhor realização no Festival de Berlim deste ano. Claire Denis é, de resto, uma cineasta com quem Juliette Binoche tem uma estreita relação de trabalho.
Curiosamente, Juliette Binoche também trabalhou com o outro homenageado desta edição do “Zinemaldia”, David Cronenberg, em “Cosmopolis”, filme de 2012 produzido por Paulo Branco.
David Cronenberg recebeu o Premio Donostia numa gala em que foi exibido o seu último trabalho “Crimes of the Future” por Viggo Mortensen (actor que já participou em quatro filmes do realizador canadiano, Léa Seydoux e Kristen Stewart. O filme esteve em competição no último Festival de Cannes.
Autor de duas dezenas de longas metragens, que vão da ficção científica ao terror ao drama psicológico ou au ‘thriller’, Cronenberg também é autor de muitos trabalhos para televisão.
‘Crash’ filme de 1996, baseado na obra literária de William Burroughs, foi exibido em San Sebastián em 2004 e em 2007 Cronenberg inaugurou a secção oficial com “Eastern Promises”. Esta é a segunda vez que se desloca cidade basca para receber um prémio que já distinguiu realizadores como Francis Ford Coppola, Woody Allen, Oliver Stone, Agnès Varda, Hirokazu Koreeda e Costa-Gavras.
Retrospectiva Claude Sautet
Claude Sautet (1924-2000), cineasta francês que não seguiu a geração dos realizadores do pós-guerra nem se envolveu na “Nouvelle Vague” foi o autor escolhido para a retrospectiva monográfica que assim regressou ao Festival de San Sebastian.
Com uma primeira parte da sua filmografia muito ligada ao cinema policial e do mundo do crime, e em que sobressaem as suas relações de trabalho com Lino Ventura e José Giovanni, Sautet viria a enveredar por um cinema mais focado nas crises sentimentais , emocionais e familiares, triângulos amorosos e paixões inesperadas.
Romy Schneider, Michel Picolli, Yves Montand – ‘Les choses de la vie’ (1970), ‘Max et les ferrailleurs’ (1971), ’César et Rosalie’ (1972) e ‘Vincent, François, Paul et les autres…’ (1974) asumiram presenças incontornáveis nos trabalhos de Sautet.
‘Mado’ de 1976 foi o seu último filme com Piccoli, ‘Une histoire simple’ de 1978 a última colaboração com Romy Schneider e ‘Garçon’ de 1983 o último encontro com Yves Montand.
Mais tarde surgiram Sandrine Bonnaire e Daniel Auteuil em ‘Quelques jours avec moi’ (1988) e Émannuelle Béart – ‘Um Coração no Inverno’ (1992) e ‘Nelly et Mr. Arnaud’(1995).
Anote-se ainda o facto de o seu último trabalho ter sido a participação em ‘Nous, sans-papiers de France’ (1997) do ‘Collectif de Cinéastes Pour les Sans-Papiers’ formado por 200 cineastas, produtores exibidores e franceses, entre eles Bertrand Tavernier, Jacques Audiard, Laurent Cantet, Philippe Garrel e Alain Bergala. Eles assinaram um manifesto em forma de curta-metragem em apoio a todos os imigrantes ilegais em França.
Cinema feito em Espanha
A difusão do cinema feito em Espanha é o grande objectivo desta secção do festival constítuída por filmes realizados no último ano. Entre eles o “Urso de Ouro” do Festival de Berlim! Trata-se de uma secção paralela não-competitiva.
Foram treze os filmes exibidos nesta edição:
- “El Color del Cielo” de Joan-Marc Zapata;
- “La Casa entre los Cactus” de Carlota González-Adrio;
- “Alcarràs” de Carla Simón;
- “El Crítico” de Juan Zavala e Javier Morales Pérez;
- “Entre Montañas” de Unai Canela;
- “Llenos de Gracia” de Roberto Bueso;
- “El Amor em su Lugar” de Rodrigo Cortés;
- “La Amiga de mi Amiga” de Zaida Carmona;
- “Tourment sur les îles” de Albert Serra;
- “La Maniobra de la Tortuga de Juan Miguel del Castillo;
- “Mi Vacío y Yo” de Adrián Silvestre;
- “Tenéis que venir a verla” de Jonas Trueba; e
- “Tequila, Sexo, Drogas y Rock and Roll” de Alvaro Longoria.