Julio Cortazar (1914-1984) é um dos mais importantes escritores argentinos do século 20. Especialmente nos contos e narrativas curtas, tornou-se reconhecido como um mestre da corrente do realismo fantástico.
O escritor também ficou conhecido por seu engajamento político e sua defesa das causas sociais. Nesta edição apresentamos a tradução inédita de um poema de sua autoria à memória do guerrilheiro argentino Ernesto Guevara, o Che.
O poema encerra uma carta que Cortázar escreveu para o amigo Roberto Retamar e sua mulher Adelaida. Na carta, ele expressa sua dor pela morte de Che, assassinado em 9 de outubro de 1967 na Bolívia. O poema, diz Cortázar, seria a única forma de expressão capaz de alcançar a dimensão visceral da perda que representava naquele momento para ele a morte de Che Guevara, a quem se liga por um sentimento universal de fraternidade.
Che
Por Julio Cortazar
(Paris, 29 de outubro de 1967)
Eu tinha um irmão.
Nós nunca nos vimos
mas não importava.
Eu tinha um irmão
que andou as montanhas
enquanto eu dormia.
Eu o amei do meu jeito,
tomei sua voz
livre como a água,
andei às vezes
perto da sua sombra.
Nós nunca nos vimos
mas não importava,
meu irmão acordado
enquanto eu dormia,
meu irmão me mostrando
por detrás da noite
sua escolhida estrela.
A tradução em português do Brasil é do poeta Alexandre Pilati, professor de Literatura da Universidade Brasília (UNB)
Exclusivo Editorial PV / Tornado
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