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Domingo, Julho 28, 2024

Köhler, novo enviado da ONU, inicia em Rabat a sua primeira ronda à região

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Horst Köhler, o novo enviado da ONU para o Sahara Ocidental, e ex-presidente alemão, iniciou no Domingo em Rabat a sua primeira visita à região com uma reunião com Naser Burita, ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros, e encontro na terça-feira com Mohamed VI, rei de Marrocos.
Burita e Köhler tiveram a reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros e de acordo com fontes diplomáticas marroquinas não houve acesso à imprensa por desejo expresso do enviado da ONU.

Segundo a  Agência Efe a visita de Köhler – ex-presidente da Alemanha e ex-director-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) – é realizada “em modo de ocultação”, uma vez que é o seu primeiro contacto com a região após a sua nomeação para o cargo a 16 de Agosto deste ano.

Segundo fontes diplomáticas em Nova Iorque, Köhler pretende ter um estilo de trabalho diferente do seu antecessor, Christopher Ross, um primeiro sinal é sem dúvida que Köhler está alojado na residência oficial do palácio para os convidados e não num hotel como nas visitas de  Ross.

Territórios ocupados não estão incluídos na viagem à região

Algo que não muda é a ausência de visita aos territórios ocupados, não se sabe se por opção de Köhler ou por imposição de Marrocos mais uma vez o território Saharaui sob ocupação militar desde 1975 não está incluído nesta viagem, apesar da campanha continua de Marrocos que tudo é uma maravilha nos territórios ocupados, aos quais é proibido referir-se como Sahara Ocidental e cuja referência oficial é “províncias do sul”. 

O território que é a origem do conflito está sob controle férreo de Marrocos e contactos com a população Saharaui é algo que o Reino não vê com bons olhos.

Em 2015,  o então ministro de negócios estrangeiros marroquino Salahedin Mezouar, anunciou publicamente que o seu governo havia proibido Christopher Ross de visitar os territórios saharauis, aos quais só tinha sido capaz de viajar em 2012, a fim de fazer contacto com o sociedade civil saharaui e os activistas de direitos humanos.

Köhler chegou a Rabat  num avião da Força Aérea Espanhola,  e foi recebido pelo ministro Burita e Omar Hilal, embaixador de Marrocos junto das Nações Unidas, conhecido pelas suas declarações pouco diplomáticas e conflituosas.

Intransigência do Reino de Marrocos e quebra com compromisso assumido

Hilal anunciou na semana passada que o seu governo considera “definitivamente enterrada” a opção de um referendo sobre a autodeterminação para a ex-colónia espanhola e só contempla a ideia de autonomia dentro Marrocos. Esta declaração que não é uma surpresa vem clarificar oficialmente que o Reino de Marrocos não tem qualquer intenção de cumprir o acordo de cessar fogo que assinou em 1991, nem as resoluções das Nações Unidas.

A Frente Polisario tinha já aceite a inclusão nas perguntas do referendo a opção da autonomia, mas nem assim Marrocos está disposto a submeter-se ao plebiscito porque sabe que irá perder e que a população Saharaui não aceitará a ocupação e a resistência pacífica nos territórios ocupados tem vindo a aumentar e não diminuir apesar da presença massiva de forças militares, para militares e policiais em todos os bairros saharaui, as invasões domiciliárias, as detenções arbitrárias, os sequestros e a tortura a que são submetidos diariamente os saharauis.

É  a insistência de Marrocos sobre a autonomia como a única solução para a disputa do Sahara que faz com que este conflito esteja num impasse, o que faz passar o tempo e beneficia Marrocos que já introduziu centenas de  milhares de colonos nos territórios ocupados e reprime de forma sistemática e violenta a população Saharaui.

Outro problema com o qual Köhler terá que lidar é o não reconhecimento de Rabat à Frente Polisario como um representante da população Saharaui: nos últimos anos, Marrocos negou a legitimidade da Frente Polisario e deu a entender que prefere lidar com a Argélia que segundo o reino Alauita é o verdadeiro problema. Mais uma vez Marrocos tenta fabricar conflitos acrescidos para evitar a questão essencial que é a realização do referendo.

O antecessor de Köhler deparou durante o se mandato com o boicote sistemático de Rabat, o novo enviado especial terá que demonstrar uma grande capacidade de negociação ou uma grande aproximação das intenções marroquinas para poder alcançar algum tipo de avanço. Se esses potenciais avanços serão no interesse da população saharaui é algo que suscita grandes duvidas.

 

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