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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Ladrão de galinhas

Marcelo Brettas
Marcelo Brettas
Marcelo Brettas é jornalista, editor, romancista, cronista, contista e poeta. Já editou mais de mil publicações periódicas. Escreveu ainda para jornais e revistas de diversos países. Tem diversos livros publicados, sendo Tô Levitando e Florestas Imaginárias os mais recentes.

Acuado por novas acusações e provas Jair Bolsonaro segue presidente do Brasil e candidato à reeleição, talvez a sua única tábua de salvação.

A lista de crimes e de possíveis crimes cometidos por Jair Bolsonaro é enorme e enfadonha. Ontem, o ainda presidente do Brasil, sofreu mais dois duros golpes. Em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal), Walderice Santos, conhecida como “Wal do Açaí” afirmou que jamais esteve em Brasília, endossando as acusações da prática ilegal de “rachadinha” (contratação de funcionários fantasma ou o repasse de parte dos rendimentos de volta para o parlamentar). Wal estava registrada como funcionária do gabinete parlamentar do então deputado Jair Bolsonaro, em Brasília, mas, na verdade, cuidava de uma das residências do atual presidente, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e de uma loja onde vendia açaí.

No mesmo dia, foi divulgado o áudio de uma conversa do ministro da Educação Milton Ribeiro com alguns prefeitos, em que ele revela o pedido de Bolsonaro para que ele atenda com verbas do Ministério da Educação prioritariamente aos pedidos que cheguem com as indicações dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que não tem qualquer ligação formal ou cargo no governo. Para complicar ainda mais a situação do ministro e do presidente, surgiu a declaração do prefeito Gilberto Braga, do município maranhense de Luis Domingues, de que um desses pastores, Arilton Moura, havia lhe solicitado 1 kg em ouro para facilitar a destinação de verbas da Educação para o seu município.

Essas acusações se somam a dezenas de outras, algumas delas da CPI da Covid, que, mesmo sabendo ser cansativo, reproduzirei parcialmente a seguir: crimes contra a humanidade; charlatanismo ao defender medicações sem comprovação científica; incitação ao crime; uso irregular de verbas públicas; prevaricação; violação do direito social; crime de responsabilidade; “rachadinha”; defesa e apologia à tortura; ligação com milicianos (inclusive os responsáveis pela morte de Marielle Franco); disseminação de fake news e atos antidemocráticos; defesa do AI5, o mais cruel dos instrumentos da ditadura militar; participação em atos pedindo intervenção militar; participação em atos incitando a revolta contra o isolamento social durante a pandemia; ações deliberadas de incentivo às queimadas e ao desmatamento na Amazônia e à invasão de reservas indígenas; declarações xenofóbicas contra médicos cubanos; crimes de racismo, homofobia, gordofobia… A lista seria interminável.

Mas, algo vai acontecer contra ele? Provavelmente, não! Bolsonaro está blindado pelos partidos que integram o Centrão, todos muito mais à direita do que ao centro; pela bancada evangélica; pela bancada do agronegócio; pelos neoliberais, que tentam aprovar medidas privatizantes; pela bancada da bala, que lucra como nunca com o incentivo à compra e ao porte de armas por parte do governo; e, principalmente, pela Procuradoria Geral da República, responsável por dar o passo inicial em qualquer processo e que hoje é capitaneada por Augusto Aras, homem de confiança de Bolsonaro.

A sua barulhenta, violenta e agora reduzida base de apoio popular dirá que ele tem o lastro de quase 58 milhões de votos. Se isso é verdade, também é verdade que a maioria desses votos vieram no bojo de uma forte onda de pregação antipolítica e de notícias falsas e narrativas construídas e que, aos poucos, vai se desvendando.

Hoje, muitos dos que ajudaram a eleger Bolsonaro se mostram arrependidos. Mas, a eles, será difícil encontrar um verdadeiro álibi, afinal, o atual presidente nunca escondeu quem ele realmente é e nem o seu discurso retrógrado e altamente perigoso.

Cada um que nele votou precisa assumir o seu erro, corrigi-lo e, jamais, voltar a colocar um lobo faminto para cuidar do galinheiro.


Texto em português do Brasil

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