Não há desenvolvimento apenas individual. Ele resulta do contato, da convivência, com os demais, sendo a fala seu instrumento.
Os pesquisadores marxistas da mente que se reuniram em torno de Lev Vygotsky fundaram uma psicologia materialista-dialética que rejeita a tese do conflito de todos contra todos. E valoriza a cooperação entre os homens. Eles viram na base do desenvolvimento mental a expressão sensível, perceptível, do pensamento: a fala, e isso implica na cooperação entre todos.
Eles rejeitaram a ideia da importância da competição entre os homens e da busca da satisfação de impulsos individuais inatos, primordiais e inconscientes que estaria na base do desenvolvimento, como quer a psicologia influenciada pela ideologia da burguesia.
Aqueles pesquisadores materialistas fundaram a compreensão da mente que rejeita a imposição da ideologia dominante, que reflete a filosofia hegemônica e enfatiza a compreensão, idealista, das características históricas, culturais e sociais da evolução humana na sociedade cuja base é a competição e a luta de classes.
Outro traço do desenvolvimento humano enfatizado por Vygotsky é aquele que, além da evolução biológica, inclui também as mudanças históricas e culturais do ser humano, cujo desenvolvimento é ao mesmo tempo biológico e cultural.
Assim, não pode haver, como supõe Freud, impulsos instintivos primordiais inatos que moldam o comportamento e, em consequência, condicionam a história e a vida em sociedade.
A apresentação, embora sumária, das ideias destes pensadores que erigiram uma interpretação materialista-dialética da mente é importante neste estudo pois ajuda a compreender o caráter ideológico e pouco científico das ideias centradas na tese da competição entre os homens.
Vygotsky e sua equipe partiram de uma concepção sobre a consciência humana que rompe com a visão de que ela seja apenas subjetiva. Seu colaborador Alexander Luria escreveu: “O conceito de consciência, tal como formulado pela psicologia moderna difere radicalmente das noções anteriores que encaravam a consciência como um estado subjetivo primário, desprovido de conteúdo concreto e de desenvolvimento histórico” (Vygotsky: 1988).
Eles compreenderam a consciência como resultado da evolução histórica e social cujo substrato material – biológico – é o cérebro. A consciência não surge pronta e acabada, mas, sendo resultado da evolução biológica, vai além dela e reflete as condições históricas e culturais vividas pela espécie humana desde que surgiu, há uns 200 mil anos.
Vygotsky mostrou, diz Luria, o papel importante da fala e sua expressão interior, no cérebro: o pensamento.
No início a fala é uma função interpsíquica partilhada entre as pessoas; ao se desenvolver, se torna intrapsíquica, passa a ocorrer dentro do cérebro, sob a forma de pensamento – que a psicologia materialista e dialética chama de “fala interior”.
É importante chamar a atenção para este aspecto – não há desenvolvimento apenas individual. Ele resulta do contato, da convivência, com os demais, sendo a fala seu instrumento. Nesse sentido, é cultural – histórico e social, envolvendo, no desenvolvimento de cada um, o desenvolvimento de todos. Esta é uma ideia fundamental para a compreensão da história e da sociedade, e do papel decisivo da intervenção consciente dos homens para sua transformação e mudança.
- Vyigotsky, L. S., Luria, A. R. e Leontiev, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo, Editora Ícone/Edusp, 1988.
- Vygotsky, L. S. A formação social da mente. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1988.
- Vygotsky, Lev. La psique, la conciencia; el inconsciente. In Obras Escogidas, tomo I. Moscou, Varnitso, 1930.
Texto em português do Brasil
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