E serve este reavivar de memória, para que quem comete ingratidão se lembre que há quem não a esqueça, que não a deixe envelhecer.
Leva-me aos Fados, canta a Ana Moura, e com esse e outros desejos, levaram-na mas foi ao Palácio de Belém para ser condecorada pelo Presidente mais indecoroso de que há memória ter havido em Portugal.
Foi ela e mais três.
Lá foram de olhos animados e de personalidades depenadas pela falta de respeito para com um colega de profissão de elevada estrutura moral e artística, de seu nome Carlos do Carmo, a quem o mesmo Presidente nunca teve sequer uma palavra de agradecimento e reconhecimento pelo prémio mundial por ele alcançado, que prestigiou e projectou o Fado como nunca o fora, nem os condecorados jamais alcançarão.
O que essas fadistas foram receber não foram medalhas, foram nódoas!
A vida nesse dia atirou-lhes com a maior porcaria possível para cima deles, E puseram-na ao peito. Como feridas que jamais conhecerão cicatriz.
Chamam-se Ana Moura, Carminho e Kátia Guerreiro (esta mandatária do dito nas cujas eleições) e a maioria vai continuar a chamar-lhes Ana Moura, Carminho e Kátia Guerreiro. Nem mais um dom, pequenino que seja. Mas por onde passam tresandam a ingratidão, mas isso deve ser algo que as excita, que as faz morrer de tusa. Servir de «uso» ou de «ofensa» ao Mestre, às mãos do velhaco, é mesmo para dar tusa e da grande.
Ide, pois, a esses fados.
Não tenham medo dos fantasmas que certamente se instalaram nas vossas cabecinhas ocas, pois tendes a Ordem do Infante a dar-vos digressões. Digressões capazes de fazer corar as virgenzinhas, que não sois, nem deveis lembrar-vos de quando o fostes. E o «homem» gostava de recompensar os seus com Ordens.
Ide, pois, aos fados.
Como lagostas a suar de patriotismo, recebestes as Medalhas da Vergonha que acolhestes com sorrisos adolescentes, falsos, emocionados.
Ide, pois, aos fados.
Sempre que me imagino a enfardar um patriótico cozido à portuguesas também me emociono. Deixai, pois, as vossas vozes deambular por um fado que fade o cozido à portuguesa e ponha o vinho a ganhar complexidade.
Ide, pois, aos fados.
Ele, o homem das medalhas, bem vos fadeu a cuspir improvisos para as vossas caras desenvergonhadas.
Ide, pois, aos fados.
Da mesma maneira que o sujeito vos pôs; de joelhos!
Ajoelhai, pois.
Ó humilhantes fadistas, aproveitai.
Que a esperança de alguma dignidade em vós, anda tão fatigada que desapareceu…e ainda não voltou, pois ainda não vos ouvi uma palavra de arrependimento.
Ide prós fados, que eles vos fadem, e muito, então.
Quem não vos acompanha, nem à viola, sou eu.