Trump nos Estados Unidos, que ninguém pensava que tivesse alguma hipótese de ser eleito e que, antes dos debates televisivos, mostrava que essa possibilidade já não podia ser liminarmente afastada. Le Penn, em França, cada vez mais próxima da Presidência, a Áustria e a Holanda, com a extrema direita a ganhar posição, Merkel em queda a abrir espaço a Wolfgang Schäuble são apenas alguns exemplos.
Como escrevia o Financial Times há pouco tempo, alguma ou algumas dessas hipóteses ameaçam concretizar-se. A esquerda política não resolveu e não resolve os problemas dos cidadãos e a direita explora essas inquietações vendendo o que o eleitorado quer comprar.
A sociedade foi perdendo os seus valores, reafirmados no longínquo Maio de 68, e hoje vê-se enredada em princípios que lhe tolhem a acção, aumentam a insatisfação dos cidadãos , alargam o fosso entre favorecidos e desfavorecidos, decidem nas costas dos cidadãos, etc.
Pensar de forma livre e independente, fugir à armadilha dos médias cada vez mais ao serviço das elites que os compraram, não é fácil.
Reli com atenção e prazer Noam Chomsky, linguista americano, filósofo, cientista cognitivo, historiador, crítico social, activista político e professor emérito no MIT. Refere que “Quanto mais poderoso é um grupo, tanto mais favorece políticos que servem os seus interesses”. Assim começa o cerco ao cidadão pensante.
Acrescenta o jornalista Denis Robert “a informação é, em primeiro lugar, um bem comercial, depois um meio de traficar influências e, por fim, o palco de conflitos de interesse cuja parada ultrapassa a nossa compreensão imediata”. “Um intelectual que nos ajuda a pensar” assim o caracteriza o mesmo jornalista.
Chomsky propõe-nos: duvidar das ideias feitas, não acreditar nas pessoas só pela sua palavra, nunca dar nada por adquirido. Verificar, refletir, pensar segundo os seus próprios critérios.
A Liberdade de Expressão, é uma das armas que nos podem proteger do que aí vem.
É um valor essencial, consagrado na Constituição americana, mas sitiado na Europa.
Veja-se a Lei Gayssor na França da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que penalisa o negacionismo relativo ao holocausto ou a forma como, perante a recusa do Tratado de Lisboa, a UE obrigou a Irlanda a repetir o referendo, ou a pressão para que nenhum país o referendasse.
Recordemos Sócrates, tão cioso dos seus princípios que viu nesta boleia da União a fórmula mágica para incumprir com a promessa eleitoral de o referendar.
E relembremos Voltaire e a posição de Chomsky “detesto o que escreves, mas estou preparado para dar a vida para que tenhas o direito de o expressar”.
Garantir a Liberdade de cada um expressar o seu pensamento é essencial. Não envolve qualquer juízo de valor sobre a opinião alheia, não garante que a opinião alheia seja correcta mas, garante-lhe até, o direito ao disparate.