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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

A linguagem das cores

Guilherme Antunes
Guilherme Antunes
Licenciado em História de Arte | UNL
mit-und-gegen
“Mit und Gegen” (Com e Contra), de Kandinsky

«O verde absoluto é a cor mais tranquila que existe. Não possui qualquer movimento. Não contém alegria, tristeza ou paixão. Não pede nada, não lança nenhum apelo. (…) O verde absoluto é, na hierarquia das cores, aquilo que a burguesia representa na dos homens: um elemento imóvel, sem desejo, satisfeito e limitado em todos os sentidos. Este verde é como uma vaca gorda, sã e imóvel, que ao ruminar contempla o mundo com os seus olhos vagos e indolentes. (…)

(…) O vermelho, tal como se imagina, cor ilimitada e essencialmente quente, age interiormente como uma cor transbordante de uma vida fogosa e agitada. (…) Apesar de toda a sua energia e intensidade, o vermelho manifesta um imenso e irresistível poder, quase consciente do seu fim. Neste ardor, nesta efervescência, transparece uma espécie de maturidade viril, centrada em si própria e pouco extrovertida.

(…) O vermelho na sua forma material, é rico e diversificado. Dos mais claros aos mais escuros, a gama de vermelhos é muito variada: (…) Esta cor tem a virtude de parecer simultaneamente quente ou fria, mas sem perder o seu tom fundamental.

(…) O vermelho claro e quente (…) evoca a força, a energia, a decisão, a alegria e o triunfo. Soa como uma fanfarra onde predomina o som forte, obstinado e importuno do clarim.

O vermelho médio perpetua certos estados de alma intensos. Como uma paixão incandescente que, em contacto com o azul, se apaga como ferro incandescente na água. Este vermelho não se concilia com os tons frios, que lhe retiram o significado e a ressonância. (…) O vermelho cinábrio (este) pode ser comparado à tuba; por vezes parece escutar-se o rufo ensurdecedor do tambor».

Texto retirado da obra “O Espiritual na Arte”, de Vassily Kandinsky

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