A imagem abaixo ilustra um texto antigo, publicado no dia seguinte à data assinalada e coincidente com o aniversário de Sophia. Nele, além do realce dado a palavras de Saramago, citava Ruy Barbosa: “A degeneração de um povo, de uma nação ou raça, começa pelo disvirtuamento da própria língua.”
Hoje ao ler o que Academia sugere, acho que seja pouco. E procurei aliados. Encontrei. Um, num belo texto de Mia Couto (a leitura integral pode ser feita lá no meu espaço):
«Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é indimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? »
Aqui, fez-se-me um clique: percebi! Era a génese do “Acordo Ortopédico” (como alguém lhe chamou), o tal… que ainda anda por aí!
Bem faria a Academia em ouvir alguns, ainda recentes, depoimentos…