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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Louis Armstrong: De New Orleans a Chicago

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

Dificilmente o início da vida de Louis Daniel Armstrong poderia ter sido mais complicado. Nascido em 4 de Agosto de 1901 em New Orleans, quis o infortúnio que viesse ao mundo no bairro de Storyville, onde as igrejas eram vizinhas de prostíbulos e a pobreza dava o mote ao dia-a-dia. Filho de um operário fabril e de uma empregada doméstica, o pai abandonou a família pouco tempo após o seu nascimento, deixando-lhe como herança uma infância de pobreza e de trabalho. Começou a trabalhar aos 5 anos, fazendo pequenos recados a comerciantes do bairro, crescendo em sagacidade e adaptando-se à vida árdua dos negros de New Orleans.

Louis adorava música, que ouvia através da porta dos bares quando passava na rua. Logo que ganhou algum dinheiro, comprou uma velha corneta, instrumento que aprendeu a tocar sozinho. Para além de tocar este instrumento, Louis cantava com um grupo de amigos pelas ruas de New Orleans, procurando ganhar algum dinheiro extra. Os amigos chamavam-lhe “Satchmo” por causa da sua grande boca (satchel mouth, ou “boca de sapo”). Mas quando a vida corria tranquilamente, uma celebração menos comedida do ano novo de 1912 levou Louis a disparar uma arma de fogo frente a um polícia, o que lhe valeu pena de um ano e meio num reformatório.

Naquela altura uma estada num reformatório era um passaporte para a criminalidade. No caso de Louis, ocorreu o inverso. Integrando-se logo de princípio na banda do estabelecimento, aproveitou todo o tempo disponível para estudar corneta e trompete, bem como para aprender solfejo. No reformatório Louis apurou a técnica e a cultura musical nestes instrumentos e criou uma disciplina de treino que manteve ao longo da sua vida.

Em 1914 Louis saiu do reformatório. Continuou a aceitar pequenos trabalhos manuais que garantiam a sua subsistência, ao mesmo tempo que apostou na sua vertente artística, tocando sempre que podia com algumas das inúmeras bandas que existiam em New Orleans. Estas participações eram pontuais, mas foram suficientes para que o seu nome se tornasse conhecido. Em 1917, Louis recebe um convite de Joe “King” Olivier, um dos principais músicos locais de jazz, para integrar a sua Creole Jazz Band. Mesmo sem ele imaginar, a sua carreira estava lançada.

Em 1918 King Olivier muda-se para Chicago e Louis ocupa o seu lugar na Kid Ory Band, o principal grupo de jazz de New Orleans. Toca ainda frequentemente com a Tuxedo Brass Band e durante o verão com a Fate Marable Band, em cruzeiros que no rio Mississípi entre New Orleans e Saint Louis. Nessa altura o nome de Louis Armstrong já goza de uma forte reputação. O sucesso vai abrindo lentamente a sua porta.

Em 1922 Louis Armstrong parte para Chicago para tocar com King Olivier, com quem grava o seu primeiro trabalho em 1923. Lilian Hardin é pianista do grupo de Oliver e tem um papel marcante ao encorajar Louis, que com ela casa pela segunda vez, a seguir uma carreira solista. É devido ao seu incentivo que em 1924 ruma a Nova Iorque para entrar na orquestra de Fletcher Henderson. Nesta formação nem tudo são rosas para Louis, que se queixa de ter poucas oportunidades para fazer solos e cantar. É também por pressão de Lilian que, no final de 1925, abandona a orquestra e regressa a Chicago para criar o seu próprio grupo.

Entre 1926 e 1928 Louis faz as gravações conhecidas como “Hot Five”, com um grupo que actuou ao vivo muito pouco, do qual fazia parte a própria Lilian. Pelo meio teve a sua própria big band, baptizada de Louis Armstrong and his Stompers. As gravações “Hot Five”, conjuntamente com as sequentes “Hot Seven”, constituem uma referência incontornável no mundo do Jazz.

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