Dia 23 de Setembro, em Lisboa, às 14:30, será feito o lançamento do livro de poemas de Maria Manuel Menezes, Lua Mágica, pela Chiado Editora, no Chiado Café Literário, Avenida da Liberdade, nº 180, D, Galeria Comercial Tivoli Fórum.
Maria Manuel Menezes é médica pediatra em Luanda. Filha de mãe portuguesa e pai são-tomense. Serve-se dos poemas para exteriorizar sentimentos, crenças e valores das suas experiências profissionais e pessoais, que agora partilha no seu livro, Lua Mágica.
A apresentação do livro será feita pela jornalista Isabel Risques, e, Abílio Bragança Neto será o orador convidado.
Veja o que diz o Dr. Luís Bernardino, no prefácio de Lua Mágica:
Fico desvanecido por apresentar esta primeira publicação da escrita poética da Maria Manuel Godinho Azancot de Menezes, sabendo bem que a minha intervenção nada tem que ver com méritos ou conhecimentos literários, mas tão- somente reside na estima, empatia, e num respeito (mútuo), que lhe fizeram desejar que eu de alguma forma marcasse presença no seu livro.
Conheci-a como estudante, médica, internista e definitivamente, colega na arte de cuidar das Crianças, mas só a sua feminidade e gentileza poderiam, nesse tempo, ser vagos indícios para a agradável surpresa de hoje saber que é uma criadora de Poesia.
E aqui temos os seus cem poemas, que eu só posso avaliar na minha forma canhestra de gostar de poesia e música, sem conhecer as regras ou o solfejo, apenas identificar-me com o som, com o ritmo, com as imagens e as emoções. Contudo, se quisermos comunicar o que sentimos, temos de usar algum tipo de análise racional para expressá-lo, temos que comentar.
Atrevo-me a supor que estes poemas da Maria Manuel têm muito de biográfico, desde o lirismo da maior juventude, para as vivências mais maduras à volta da família, das crianças, das paisagens, do seu trabalho, até às mensagens de solidariedade humana.
Curiosamente, sendo colegas do mesmo ofício, gostei menos dos poemas marcados pelo seu trabalho como Pediatra. Talvez porque o aproximarmo-nos demasiado das coisas e das acções, tem o risco de empobrecer a meditação poética, e fica apenas a rima para lhes marcar essa natureza.
Mas essa profundeza necessária para que a poesia tenha as imagens e o ritmo que até dispensam a rima, encontramo-la em muitos dos seus poemas.
Veja-se esta “bátega” do início dum poema:
Voo para o teu coração,
Deixa-me entrar no teu íntimo…
(Voo para ti)A atenção subtil na paisagem
O tom azul e verde da água mansa do mangal
é tão belo que temos num só, o mar e o lago!
(Mangal)O enlevo com as crianças
Vestidos de marca ou nus não têm cor
…
Meninos são diamantes transparentes!
Todos iguais, todos diferentes!
(Meninos de Rua)
E mais pérolas de beleza e sensibilidade encontrei noutros poemas, (Música da Felicidade, Idosos Desenganados, Jardim do Meu Bairro, Mulheres Esquecidas) para ela nos dizer, no fim:
Não quero dizer palavras sem sentido
Nem falar da lógica dos labirintos
…
Quero palavras simples e puras.
Quero um poema de colo,
Simplesmente dizendo:
“Vou precisar da vida inteira para não te querer,
Vou precisar da eternidade para te esquecer”
(Poema de Carinho)
A sensibilidade de Maria Manuel à paisagem e à natureza tornam particularmente notáveis esses poemas.
Destaco a sua evocação das vivências juvenis no Moxico e sobretudo o último poema “Kanawa Moxico, 1963-68)”, em que o tom nostálgico, mas detalhado, da geografia e dos instantes, me fizeram transportar para um belíssimo poema do exilado António Nobre em Paris, a evocar, também, os sítios amados da sua infância.
Dizia Eugénio de Andrade (e cito de memória):
Dizem que há outros céus e outras luas
E outros olhos densos de alegria
Mas eu sou destas casas, destas ruas
Deste amor a escorrer melancolia
Pois neste livro, Maria Manuel leva-nos a visitar as suas ruas e as suas casas, tão bem iluminadas pela sua poesia. Convidamos-vos a entrarem também!”