A história de Luís Carlos Prestes, de quem comemoramos 130 anos de nascimento em janeiro de 2018, se confunde com a história da luta social no Brasil.
Maior líder comunista que o Brasil já teve país, Prestes ficou conhecido já no início do século 20, antes de ingressar no Partido Comunista, através da Coluna Prestes que percorreu cerca de 25 mil quilômetros do Brasil protestando contra a República Velha, oligárquica e extremamente autoritária.
Entre outras qualidades Prestes foi um abnegado e, se suas lutas sofriam intensa repressão e, por vezes, não apresentavam resultados imediatos, elas não apenas fomentaram uma mentalidade crítica a um sistema político desigual e repressor, como também pavimentaram o caminho para o combate a este sistema.
Assim foi, por exemplo, a relação entre a Coluna Prestes e o sucesso da Revolução de 1930, que rompeu com as oligarquias que dominavam o país.
Em sua longa trajetória Prestes criou amigos, inimigos, mas acima de tudo, admiradores. Ninguém foi, e ainda não é, indiferente à figura do capitão. Sobre a força de sua presença, o também comunista Marco Antonio Coelho (1926 – 2015) afirmou, em entrevista ao Centro de Memória da Juventude, em 2004, que:
Pessoas que privaram com o Prestes tem de um lado um juízo que é aquela admiração, aquela veneração e, por outro, uma atitude crítica acirrada. Como o Oscar Niemayer que até o fim viu o Prestes como “o cavaleiro da esperança” e, na outra ponta, Jacob Gorender, que foi radical em sua crítica no livro Combate nas Trevas. (…) Tive a oportunidade de assistir a várias reuniões do Prestes com altas figuras do país. E mesmo adversários dele, não comunistas, o reverenciavam. Por quê? Porque, como Fidel Castro, ele era um mito. Ele queria ser um homem igual aos outros, mas não conseguia. Era uma grande felicidade para o Prestes pegar um filho e ir comprar bala. Ele nunca teve isso, nunca pôde conviver com os filhos, nunca teve uma vida privada, sempre foi acatado como um oráculo”.
De fato, o comunista dedicou sua vida à luta por uma sociedade mais justa. Enfrentou a repressão, a prisão, o exílio e a clandestinidade repetidamente, mas sempre agiu de acordo com seu papel de dirigente político e, apesar das atrocidades que sofreu, não deixou questões pessoais interferirem em seu comprometimento social e ideológico. Tanto que, mesmo após permanecer nove anos preso pela polícia do Estado Novo e ter sua companheira, Olga Benário, entregue à Alemanha nazista e assassinada no campo de extermínio de Bernburg, apoiou Getúlio Vargas para presidente em nome da reconstitucionalização do país.
Depois disso ainda liderou a bancada comunista de 14 deputados na assembleia constituinte de 1946 e apoiou o governo de João Goulart no início da década de 1960.
Em abril de 1964 Luís Carlos Prestes foi o primeiro dos cem nomes da lista punitiva da ditadura militar. Ditadura que, desta vez, alinhada com a política anticomunista estadunidense na ordem bipolar da Guerra Fria, conseguiu desarticular as principais organizações de esquerda, sobretudo o PCB.
Em entrevista ao programa Roda Viva de janeiro de 1986, Prestes, perguntado sobre uma “Nova República” iniciada em 1985 respondeu: Na minha opinião, não há nenhuma Nova República. Se há alguma Nova República, ela nasceu igual a Velha. Não houve nenhuma alteração em profundidade. Todas foram superficiais. Eu nego, portanto, essa existência de uma Nova República. (…) A legislação fascista, depois da posse do senhor Sarney, que a imprensa dizia que seria revogada, passado um mês, dois meses de um silêncio absoluto, e chegamos às eleições da Assembleia Constituinte com toda essa legislação fascista de pé. Lei de Segurança, lei contra as greves, lei contra os estrangeiros, lei de imprensa, enfim, toda essa legislação acumulada nestes 21 anos de ditadura militar. Tudo de pé. Então, não houve nenhuma alteração”.
Ao retornar do exílio, em 1979, Prestes aproximou-se de outra grande liderança nacional, Leonel Brizola. Quando morreu no Rio de Janeiro, em 1990 aos 92 anos de idade, Prestes era presidente de honra do PDT.
Aos 91 anos, refutava sempre que o chamavam de socialista: “Sou um comunista revolucionário, por favor”.
Engenheiro, capitão do exército brasileiro, comunista revolucionário, Luís Carlos Prestes esteve presente na história da República desde o “tenentismo”, na década de 1920, até os primeiros anos da volta da democracia, entre 1985 e 1990. Jamais traiu seus ideais. Sua vida é também a crônica não da política brasileira convencional, mas da luta do povo pela democracia, pelo progresso social e pela soberania nacional.
Texto em português do Brasil
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