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Terça-feira, Novembro 5, 2024

Macron: a mudança que deixa tudo no mesmo lugar?

João Ricardo Costa Filho
João Ricardo Costa Filho
Professor do Mestrado Profissional em Economia da Fundação Getúlio Vargas/EESP e Professor da Faculdade de Economia da FAAP

O ano de 2017 tem trazido diversos desafios à ordem monetária internacional. O improvável Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, eleito com uma agenda protecionista; a Holanda flertou com a possibilidade de eleger como primeiro ministro o candidato de um partido de “extrema direita”

E agora o segundo turno das eleições na França contrasta duas propostas diametralmente opostas: Emmanuel Macron prepara-se para aprofundar a integração econômica europeia e atacar os problemas domésticos a partir dela, enquanto Marine Le Pen defende a abordagem oposta: isolar-se para crescer.

As pesquisas até o momento apontam Macron como o provável vencedor das eleições. Mas não custa lembrar que as pesquisas também apontaram que Donald Trump não seriaindicado como o candidato do Partido Republicano; depois indicaram que ele não seria eleito.

Aguardemos a votação, mas até lá podemos imaginar o que representa para o mundo uma vitória do ex-ministro da economia.

Vencer e convencer

Nesta sexta-feira (05 de maio), ao invés de proferir um discurso em inglês, Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, preferiu outro idioma, o francês. Com o chamado Brexit em curso, há um espaço a ser conquistado e se a Alemanha já tem muito protagonismo na União Europeia e na Zona do Euro, não seria nada ruim para a França acumular esse capital político.

Nesse sentido, a eleição de Macron poderia colaborar com maiores ambições francesas. Todavia, como aponta o professor Carlos Gustavo Poggio Teixeira (coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e meu colega na Faculdade de Economia e Relações Internacionais da FAAP) “A grande questão não é se Le Pen vai vencer (o que é muito improvável), mas qual vai ser o tamanho da vitória de Macron”.

Carlos Gustavo ressalva que, como os dois candidatos são de partidos fracos e as eleições legislativas serão em um mês, o resultado da eleição presidencial pode não indicar quem irá dar as cartas na França.

Portanto, mais do que vencer, Macron tem que convencer. Tem que ganhar bem para ter poder o suficiente para que o seu projeto para a França e para a Europa possam realmente ir em frente. E dadas certas condições na Zona do Euro, é com integração e não isolacionismo que a região deve enfrentar seus problemas. Macron já deu indicações de que se inclina para que exista mais união fiscal, condição necessária para acomodar choques assimétricos na Zona do Euro.

No peculiar sistema semi-presidencial francês, o presidente tem muito poder quando é do mesmo partido do primeiro-ministro. Mas quando isso não acontece, o poder volta para as mãos do primeiro-ministro e o sistema ganha características de parlamentarismo. Isso aconteceu apenas 3 vezes (a última em 1997-2002) e em todas elas quem tocava de fato o governo era o primeiro-ministro, com o presidente tornando-se praticamente uma figura decorativa.”

Saída à francesa

Não sabemos qual será a escolha dos franceses, mas sabemos que a sua escolha, além de afetar o destino do país, irá impactar o mundo. Uma França que consegue recuperar uma trajetória de crescimento sustentável e mais vigoroso e ainda ganha poder dentro dos blocos econômicos de que faz parte pode ter desdobramentos positivos nos seus vizinhos e no mundo. O ano de 2016 já “tirou” muito crescimento potencial do mundo, está na hora de 2017 mostrar que este ano não seguirá a mesma linha.

Certamente, as eleições presidenciais de 2017 na França entrarão para a história. Não apenas como uma foto, mas também como pelo filme que será revelado a partir de agora. Carlos Gustavo nos lembra que embora estejamos discutindo esta eleição, “[…] teremos outra em 5 anos. Marine Le Pen tem menos de 50 anos, muito gás pela frente, e trajetória de crescimento. O barulho não vai acabar tão cedo”.

Caso a vitória de Macron sirva apenas para afastar a ameaça de caráter nacionalista, mas não seja suficiente para que ele governe a França, é possível que com o poder nas mãos de um primeiro-ministro que represente os partidos centrais na França, pouca coisa mude. Embora o vácuo político deixado pelo Reino Unido ainda possa ser capitalizado, se não houver a mesma vontade de integrar-se mais, os problemas da Europa (especialmente da Zona do Euro) podem continuar a ameaçar o continente.

Em suma, o resultado deve ser acompanhado de perto pois todos temos muito interesse nele. Este é um momento no qual todo mundo “Vive la France!”. Espero que os franceses possam nos ouvir.

O Autor escreve em português do Brasil

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