A democracia transformada, agora, na agonia dos outros teve como proeminente tarefa “organizar a maioria”, tornando-a sempre mais vulnerável até aos nossos dias.
Em Portugal os elevados índices de abstenção eleitoral serão o principal indicador desse enfraquecimento. Os casos de corrupção e enriquecimento ilícito dos governantes são, igualmente, estruturantes para tal constatação. Como poderá a maioria ter razão?
Ao conseguir resumir a vantagem de ser livre numa mera burocracia, num conjunto de formalidades, doutrinaram-nos sob a máxima “nada podes contra a velha senhora, a situação, o sistema, a maioria …”. Mas, isso é totalmente falso!
Só a minoria pode ter razão. A maioria nunca teve razão porque com ela não teria acontecido o 25 de Abril [1]. A maioria não teve razão quando crucificou Jesus Cristo. A maioria permitiu, ainda, que Portugal tivesse um presidente palhaço sem que este nada tivesse de fazer para provar que não o era. A maioria não terá nunca razão enquanto os mais ilustres pensadores da humanidade não lhe quiserem pertencer. Como poderá a maioria ter razão?
A um povo testemunha de um crime não caberá afirmar a sua inocência escusando-se na máxima “somos todos culpados”. Ter esperança nas maiorias é desmentir o futuro, isto do mesmo modo que vencer o medo não será, jamais, o mais revolucionário dos actos. Este, o medo, assim como cada nova maioria nunca existiram.
[1] Data em que a Liberdade foi devolvida aos portugueses por um grupo de jovens milicianos, pondo fim à ditadura fascista.