A direita tradicional, agora alcunhada de centro, hegemonizou o Brasil, pela força colossal conferida principalmente a cinco partidos: MDB, PSDB, DEM, PP e PSD.
A mídia corporativa destaca também, com indisfarçada satisfação, a inegável derrota do PT, bem como o mau desempenho de toda a esquerda. Deixa, entretanto, de apontar mais um vitorioso, o antipetismo, que mostrou-se vivo e forte.
Não devíamos relegar a terceiro plano a derrota, esta sim, acachapante, da extrema direita e do bolsonarismo. Ai de nós se Bolsonaro estivesse hoje colhendo vitórias Brasil afora.
Começa agora a caminhada para 2022 e daqui a pouco veremos que os resultados deste domingo não serão assim tão determinantes para a eleição presidencial. Partidos e pretendentes turbinaram suas potencialidades mas ainda falta muito caminho a andar.
Não dou como certo nem mesmo que Bolsonaro será candidato ou que será competitivo, tamanho terá sido o desastre de seu governo quando 2022 chegar, fora o já acumulado.
O olhar mais criterioso diz que o PT fracassou porque, ao invés de começar a recuperar-se, encolheu mais ainda – embora continue administrando seis milhões de brasileiros e tenha tido o mesmo total de votos de 2016. Faz sentido falar que o partido estacionou, mas a hora não é de buscar eufemismos para a derrota.
No balanço de suas perdas, o PT precisa admitir que errou ao subestimar a força do ódio ao PT, insidiosamente injetado no eleitorado em nome do combate à corrupção.
Afinal, em 2018, Haddad obteve um resultado admirável para quem era desconhecido nacionalmente e fez duas semanas de campanha. Mas eram outros os quinhentos. Para ele convergiu a resistência a Bolsonaro e a tudo que era previsível e que está acontecendo ao Brasil.
O antipetismo é como um fármaco de efeito retardado, daqueles que vai liberando o principio ativo lentamente no organismo, para que o efeito perdure.
A injeção começou em 2014, com a Lava Jato e a cobertura alinhada da imprensa, mas perdura até hoje. Da mesma forma não desbotou ainda a pecha de partido corrupto que lhe foi pespegada pela Lava Jato – com todos os crimes de seus procuradores, com toda a parcialidade de Moro, que acaba de revelar sua indecente sociedade com uma consultoria que administrará a falência da construtora que ele ajudou a falir. Não é preciso ir longe. Qualquer passeio fora da bolha progressista leva ao encontro da ojeriza ao PT. Das promessas de não votar mais no partido.
Na busca de causas para a derrota, fala-se em falta de renovação, fala-se no lulocentrismo, na estreiteza de alianças e em outros fatores que teriam pesado. Pode ter havido um pouco de tudo isso, mas foi o antipetismo que drenou votos ex-petistas em duas direções. Majoritariamente, para os partidos da direita. Secundariamente, para outras vertentes de centro-esquerda, como PDT e PSB, que avançaram sobre a mancha lulista no Nordeste, conquistando quatro capitais.
É o antipetismo que o tigre que o PT precisa enfrentar e derrotar, e não em tempo de eleições. Para retocar a imagem e livrar-se da pecha, será preciso trabalhar nas bases, como nos primeiros tempos, para compreender a alma contemporânea dos brasileiros, suas necessidades e demandas. Será importante apresentar novas propostas de políticas públicas, que atendam às novas pautas. Nas prefeituras que conquistou, entre elas as de quatro grandes cidades, o PT terá que fazer administrações admiráveis, que lembrem ao eleitorado as inovações do velho “modo petista de governar”. Mas com outros modos, que os tempos são outros.
E urge, sobretudo, combater os discursos e narrativas que alimentam o antipetismo. A Lava Jato começou em 2014 e até hoje o PT não conseguiu construir a sua contra-narrativa, embora tenha os argumentos.
Texto original em português do Brasil
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