As autoridades moçambicanas devem lançar imediatamente uma investigação independente e imparcial sobre a execução extrajudicial de uma mulher indefesa em Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, defende a Amnistia Internacional, após verificar o vídeo do ataque que foi partilhado nas redes sociais.
Na semana passada, a organização já tinha denunciado atos de tortura cometidos pelas forças de segurança.
Vídeo que mostra execução de mulher é mais uma prova das violações de direitos humanos pelas forças armadas
Sobre este novo caso, uma fonte militar local, que falou com investigadores da Amnistia Internacional, forneceu uma justificação bizarra para o assassinato, alegando que a mulher tinha enfeitiçado o exército moçambicano e recusado mostrar-lhes o esconderijo dos insurgentes que pertencem a um grupo conhecido por Al-Shabaab.
As autoridades em Moçambique devem lançar de imediato uma investigação independente e imparcial à execução extrajudicial de uma mulher nua e indefesa, em Mocímboa da Praia, na província moçambicana de Cabo Delgado, apela a Amnistia Internacional, após verificar a autenticidade de uma gravação em vídeo do ataque que foi partilhada nas redes sociais.
Este vídeo macabro é mais outro exemplo repugnante das graves violações de direitos humanos e assassinatos bárbaros que estão a ocorrer em Cabo Delgado às mãos das forças de defesa e segurança moçambicanas.
Este incidente reflete as nossas recentes constatações de arrepiantes crimes e violações de direitos humanos, à luz do direito internacional, que estão a ocorrer na área. E demonstra um padrão repetido e impiedoso de crimes cometidos pelas forças armadas moçambicanas”,.
Para Deprose Muchene, “as forças armadas não podem ter carta-branca para cometer crimes e violações de direitos humanos”, como “o assassinato de civis, com a justificação de estarem a combater grupos armados”. “As autoridades moçambicanas devem investigar estes crimes recentes e chocantes e assegurar que todos os suspeitos de responsabilidade criminal prestem contas em tribunais civis através de julgamentos justos”, nota.
Mulher espancada e baleada 36 vezes
De acordo com a análise do Crisis Evidence Lab da Amnistia Internacional, a mulher não identificada foi morta num local com as coordenadas exatas ou aproximadas de -11.518419, 40.021284, no meio da estrada R698, no exterior da subestação elétrica localizada no lado oeste da cidade de Awasse, em Cabo Delgado.
A mulher estava a tentar fugir para o norte, ao longo da estrada, quando foi intercetada por homens aparentemente pertencentes às Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), que a seguiam. Depois de espancada com um pau, mataram-na a tiro e abandonaram o seu corpo nu em plena estrada. Quatro homens armados diferentes dispararam 36 vezes contra a vítima, com espingardas Kalashnikov e uma metralhadora do tipo PKM.
Os soldados usavam a farda das FADM. Um deles exibia o distintivo amarelo e preto no ombro esquerdo. A maior parte usava a farda completa, mas o homem com a metralhadora PKM vestia uma camisa vermelha em vez da camisa camuflada normal.
Todos os soldados falam português no vídeo e referem-se à mulher como “Al-Shabaab”, um grupo armado local acusado de causar instabilidade na região, desde outubro de 2017. No início da gravação, ouvem-se os militares a gritar “Este é o Al-Shabaab” e no final concluem: “Acabámos de matar o Al-Shabaab”. Uma fonte militar local, que falou com os investigadores da Amnistia Internacional, apresentou uma justificação bizarra para o assassinato, alegando que a mulher tinha enfeitiçado o exército moçambicano e que se tinha recusado a mostrar-lhes o esconderijo dos insurgentes.
O vídeo foi divulgado pela primeira vez nas redes sociais a 14 de setembro, mas foi partilhado em telemóveis privados a 7 de setembro – dia em que foi provavelmente filmado, segundo as fontes da Amnistia Internacional. Isto coincide com a “megaoperação” do governo para remover insurgentes de Awasse e Diaca, corroborando a presença de combatentes das FADM nestas cidades.
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