E pimba, apanho o poeta a jeito e faço-lhe uma rogériografia.
Olho a sua “chapa” que, tal como as outras, lhe retrata as profundezas da mente.
Enquanto poeta, a “coisa” bate certa e confirma a minha admiração e até estima. Não foi por acaso que a Praça da Canção me veio à mente bem como os cantares de Adriano. Não foi por acaso que o liguei a nomes como O’Neil, Ary, Torga e Pessoa, um dia em que me ocorreu dar resposta à pergunta porque me sentia português… Não foi por acaso quando, em data recente, Eu, Meu Contrário e Minha Alma, em uníssono o aplaudimos, num poema inesperado: «Não este não arrisco logo existo / de cócoras à espera de uma sopa. (…) / Pátria minha quem foi que te não quis?» – Manuel Alegre, in “Resgate”.
Enquanto cidadão e político interventivo a sua rogériografia não tem interpretação possível. É uma trapalhada pegada. E desisto de interpretar aquilo. Os neurónios ora se agitam ora parecem mortos e as respectivas sinapses ou são uma cavalgada ora um trote trôpego e sem norte a apetecer dizer algo para o suster.
É neste quadro de incompetência rogériográfica que me interrogo porque terá feito o poeta aquele apelo a que “não se mutile a biografia de Mário Soares nem se a adapte a conveniências em termos que parecem extractos de um discurso em tom de elogio fúnebre”, sendo o corpo de Soares ainda um não cadáver. Incompreensível e lastimável.