1929 – 2017
Cidadão que participou discreta e corajosamente na Resistência antifascista, homem da Ciência com forte vocação humanista, Manuel Pina dedicou a maior parte da sua vida à defesa das crianças, sobretudo as mais vulneráveis, e destacou-se como cineclubista, quer como dirigente, quer como crítico. É uma das grandes referências do movimento dos cineclubes na segunda metade do século XX e, até ao fim dos seus dias, encarou sempre com paixão a defesa dessa causa[1].
Biografia
Manuel Pina nasceu a 20 de Junho de 1929 em Maputo, Moçambique, onde passou toda a infância e adolescência, e veio para Lisboa aos 18 anos. Licenciou-se em Ciências Físico-Químicas na Faculdade de Ciências e foi na Shell Portuguesa que exerceu a sua profissão, durante muitos anos, até á sua reforma profissional.
Ainda na Universidade, integrou o núcleo fundador de um dos primeiros cineclubes de Lisboa – o Cineclube Universitário, cujo lançamento, a seguir ao do ABC, começou a ser preparado em 1951. Pouco depois, iniciou a sua colaboração com a revista Imagem, e, na sequência disso, com o Cineclube Imagem – o terceiro dos cineclubes que arrancaram em Lisboa nos primeiros anos da década de 50. Foi um dos principais dirigentes deste cineclube, entre meados da década de 50 e finais da década de 80. Em 1986 foi eleito Presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Cineclubes, cargo que ocupou até 1994.
Entre os anos 50 e 70 publicou regularmente crítica de cinema, em revistas e jornais (Vértice, Seara Nova, Diário de Lisboa, República, Jornal de Notícias); animou uma filmoteca empresarial, de referência (a Filmoteca da Shell Portuguesa, que teve grande importância para a actividade dos cineclubes); exerceu longa actividade pedagógica de cinema junto de crianças e jovens, dentro e fora do movimento cineclubista; colaborou num filme produzido pelo Cineclube do Porto (AUTO DA FLORIPES, 1959). Uma das suas preocupações fundamentais, recorrente em textos publicados e em muitas intervenções cineclubísticas, prendia-se com a criação de uma cinemateca, pensada a partir da prática cineclubista, um elo fundamental na cultura do país. Iria, naturalmente, estar ligado à Cinemateca, e foi um dos representantes do meio cinematográfico português, convidados para integrar o grupo que assessorou, em 1974 e 1975, Manuel Félix Ribeiro, o fundador da então Cinemateca Nacional[2].
Na UNICEF teve um papel de primordial importância. Em Abril de 1979 integrou o grupo de sócios fundadores do Comité Português para a UNICEF (liderado por Maria Violante Vieira), ocupando o cargo de Presidente da Assembleia Geral até 1997, data a partir da qual passou a desempenhar as funções de Presidente do Conselho de Administração. Desde então e até à data do seu falecimento, Manuel Pina dedicou-se plenamente a esta missão, sempre em regime de voluntariado e com o foco na defesa dos direitos humanos. Ao longo dos anos que dedicou à causa da UNICEF, foi um acérrimo defensor dos direitos das crianças, em especial das mais vulneráveis e desprotegidas. À data da sua morte, era Presidente do Comité Português para a UNICEF.
Manuel Pina morreu em 17 de Fevereiro de 2017, deixando viúva a médica obstetra Maria da Purificação Araújo.
Por ocasião da sua morte, o Presidente da República apresentou condolências à família, recordando o trabalho e a dedicação em prol dos direitos das crianças.
Em Abril de 2017, a Cinemateca evocou Manuel Pina, iniciando o Ciclo «Manuel Pina: Memória do Cineclubismo» com a exibição de THE JUGGLER (O Malabarista, de Edward Dmytryk), o filme que foi objecto da primeira crítica publicada pelo homenageado (na revista Imagem, em Maio de 1954)[3].
[1] Os cineclubes foram instrumentos de Cultura que desempenharam um papel crucial na História do Cinema em Portugal e que tiveram especial relevo durante a Ditadura, na oposição ao regime fascista e na formação cultural e cívica da juventude.
O que me dói, hoje em dia, não é apenas não se falar de cineclubismo (…) mas também verificar que, quando, por milagre, se faz referência aos cineclubes, se mostra ou uma grande ignorância ou uma declarada indiferença, diminuindo a dimensão da obra que realizaram”
[2] Por ocasião dos 40 anos do 25 de Abril, no próprio dia 25 de Abril de 2014, Manuel Pina proferiu na Cinemateca uma apresentação sobre o tema “O que é uma Cinemateca”, concretizando uma outra apresentação que, 40 anos antes, tinha sido anunciada para esse mesmo dia no Cineclube Imagem, e que naturalmente não chegou a ter lugar.
[3] Sendo um filme nunca antes exibido na Cinemateca, é a nossa forma de evocar a função de dar a ver, ou de fazer descobrir, que, sendo nossa, foi sempre também dos cineclubes, numa sessão que não pode afinal deixar de ser mais uma homenagem à histórica actividade deles”
Dados biográficos: