José Luiz Del Roio, historiador, foi senador na Itália e deputado no Parlamento Europeu. Ele vivia no país europeu na época da operação “Mani Pulite” – mãos limpas – e no Senado foi colega de um ex-integrante do que ele chama de “pool de procuradores”, empenhados, primeiro, em apurar a movimentação financeira da Máfia nas eleições.
Del Roio mostra diferenças. “A Mãos Limpas ficou restrita a Milão. A operação tinha 16 meses pra atuar e funcionou nesse prazo. Não havia um único juiz pra toda a operação. Eram sempre três, e sorteados”, conta.
O historiador situa a operação no xadrez da guerra fria. “A Itália saiu unida da Segunda Guerra, com duas forças políticas ativas. O Partido Comunista tinha 1/3 dos votos e governava cidades importantes. A Democracia Cristã liderava o outro bloco. Apesar da disputa, dentro das regras democráticas, o país cresceu, se tornou uma potência industrial e ficou entre os dez maiores PIBs”.
E após a Mani Pulite? “A indústria sofreu um baque e o grande operariado italiano praticamente desapareceu. Na política, no vazio criado pela fúria investigatória, surgiu a figura de Silvio Berlusconi, que era cantor e animador de shows em navios. Era pobre, mas acumulou fortuna de 10 bilhões de euros. E Berlusconi criou um partido pra ele”, comenta.
URSS
Com o fim da União Soviética, a Itália perdeu sua condição de anteparo ao avanço socialista na Europa.
Não tinha mais o mesmo peso e a mesma função. A geopolítica passou a ser Norte contra Sul. Sua decadência beneficiou diretamente a Alemanha. Depois, vieram os Brics e aí começamos a explicar a Lava-Jato no Brasil”.
Para Del Roio, “sofremos um golpe, vivemos esse golpe e não sabemos até onde ele vai”. O comando, ele diz, obedece aos interesses dos Estados Unidos, a fim de beneficiar o grande capital e privilegiar o setor bancário e financeiro. Del Roio avalia o cenário: “Farão de tudo pra aprofundar essa operação. Não estou dizendo que farão aqui e o que fizeram na Líbia e na Síria. Mas também não descarto”.
Democráticos
José Luiz Del Roio lamenta que setores da esquerda e segmentos democráticos da sociedade não tenham ainda entendido o que aconteceu. Essa incompreensão, ele entende, dificulta reações mais organizadas e amplas. Na Itália, nos anos 90, o senador viu também a intolerância.
Ódio, intolerância, preconceito, tudo isso foi estimulado e contaminou a sociedade”.
Moro
Ante a pergunta se o então juiz Moro era operador da CIA, ele responde:
Nem precisa. Ele, por sua origem familiar, já fazia parte da elite atrasada. Moro apenas assimilou os valores dominantes, por meio de fontes norte-americanas”.
Assista abaixo:
O Repórter Sindical desta quarta (24) recebeu o historiador José Luiz Del Roio
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil (Agência Sindical) / Tornado
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.