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João de Sousa

Domingo, Novembro 3, 2024

Marcelo

J. A. Nunes Carneiro, no Porto
J. A. Nunes Carneiro, no Porto
Consultor e Formador

DIA 15, FALAMOS

Muito se tem escrito e falado sobre o estilo de Marcelo Rebelo de Sousa no exercício das funções de Presidente da República. A sua popularidade é inquestionável e surpreendente.

I

A sua presença é constante e há quem diga que isso o vai desgastar. Há quem anteveja um fim menos feliz e considera um erro tanta exposição e tanta actividade.

A minha convicção é a de que este estilo é bom para Portugal e para a nossa democracia. Não podemos esquecer que Marcelo sucedeu ao pior Presidente da República que Portugal teve: Cavaco Silva. Marcelo tem sido tudo aquilo que Cavaco nunca quis nem soube ser: um Presidente próximo das pessoas, envolvido com a nossa vida, com os nossos problemas, com os nossos sucessos e com os nossos fracassos. Penso que a palavra que melhor o define é mesmo esta: genuíno.

Podemos nem sempre estar de acordo com o que diz. Mas temos de reconhecer de que sabe falar e não tem medo de ter opinião. E, sobretudo, sabe usar a palavra para, no momento certo, encontrar a forma de influenciar a vida política.

Sendo um homem inteligente e um comunicador nato, soube desde o princípio usar a comunicação como peça essencial do seu mandato. Enquanto Cavaco se refugiava em silêncios e em meias palavras (para já não falar em intrigas…), Marcelo é claro, transparente e, sobretudo, tem um sentido muito forte da oportunidade. Sabe quando falar e o que dizer. E mesmo os silêncios são instrumentos de comunicação.

II

Cavaco foi uma nódoa e os efeitos nefastos do seu mandato vão perdurar por muito anos. Se durante 10 anos anos fez do silêncio o seu refúgio, aproveita agora apara revelar pormenores confidenciais e pessoais sobre os seus interlocutores enquanto exercia o cargo. Trata-se duma estratégia de quem não tem princípios. Cavaco publicou dois livros ditos de memórias mas que são, antes de mais nada, de actos de vingança. São textos de quem desconhece que revelar uma conversa privada não respeita o interlocutor.
Não interessa se os seus interlocutores (José Sócrates, Passos Coelho ou outros) são ou não pessoas honestas e recomendáveis. Se tinha dúvidas, Cavaco podia, na devida altura, tomar uma posição e decidir alterar o rumo dos acontecimentos.

Mas, a sua opção foi sempre o contrário: de uma forma pouco ou nada construtiva, escreve uns anos depois o que muito bem lhe apetece sem (como habitualmente…) direito a contraditório e sem que os visados possam responder. A não ser que decidissem enveredar pelo mesmo caminho e revelar o que Cavaco lhes disse noutras conversas…

Curiosamente, Cavaco sempre reclamou para si a honestidade absoluta apesar de, por mais de uma vez, terem surgido dúvidas em relações muito pouco recomendáveis no âmbito do Caso BPN, por exemplo.

Mas, Cavaco sempre preferiu usar a figura de “virgem ofendida” em vez de esclarecer e de mostrar factos que desmentissem cabalmente o que se apareceu na comunicação social.

III

Portugal teve, no pós-25 de Abril, cinco Presidentes da República eleitos: Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa.

A história saberá interpretar e qualificar o seu papel e importância para Portugal e para a Democracia.

Marcelo está a ser, talvez, aquele que mais próximo esteve do Presidente ideal. Pelo menos, está a sê-lo no momento presente.

 


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