A frase supra é de Miguel Sousa Tavares no Expresso deste sábado e sintetiza a ideia que fica dos comentários do Presidente Marcelo à eleição de Mário Centeno para presidente do Eurogrupo. De facto, o Presidente tem-se desdobrado em comentários, primeiro elogiando Mário Centeno pela eleição, como que a compensar a célebre nota de imprensa na qual dá a entender que queria demitir Centeno por causa dos sms da CGD. Sousa Tavares no artigo acima citado afirma que desde a primeira hora em que a possibilidade se tornou real que o Presidente mostrou toda a sua animosidade à ideia.
Os temores do Presidente quanto aos perigos da eleição de Centeno, confessados ao Expresso, contêm um sub-texto como aliás quase tudo o que o Presidente diz em público. Parecendo elogiosos para o ministro não o são, já que desvalorizam a eleição ao sugerirem a ideia (curiosamente também defendida pelo Bloco e pelo PCP) de que ela é prejudicial ao País. Marcelo sugere que Centeno será o culpado do que vier a surgir de negativo na situação financeira do País. E fá-lo sabendo que a sua palavra, explícita ou implícita, ecoa nos media e através deles influencia a opinião pública.
Ora, o Presidente sabe perfeitamente que se não fosse ministro das Finanças, Centeno não poderia ser presidente do Eurogrupo, como aliás aconteceu com os seus antecessores que eram ministros das Finanças dos governos dos seus países quando exerceram funções como presidentes do Eurogrupo.
Tem, pois, sentido a perplexidade de Miguel Sousa Tavares quando se interroga sobre se Marcelo terá medo ou ciúmes do prestígio internacional do governo. Ou se terá achado que era altura de dar a mão aos derrotados da direita mesmo que para isso se tenha encostado à posição da extrema-esquerda.
De facto, são insondáveis os desígnios do Presidente. Convém estar atento aos seus gestos e às suas palavras porque eles não dizem tudo o que julgamos entender numa primeira e simples leitura.
É legítmo pensar que o Presidente mudou de estratégia: o apoio dos primeiros tempos ao governo virou agora desgaste ou enfraquecimento do governo. Os seus “medos” sobre Centeno na presidência do Eurogrupo são uma metáfora dos seus verdadeiros medos de um sucesso “excessivo” do governo que diminua ou eclipse a sua própria influência.
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