A maré virou contra Bolsonaro e as forças democráticas precisam aproveitar o momento. É hora de manter a mobilização, ainda que virtual, e de aumentar a pressão pelo impeachment deste troglodita celerado.
Em novembro, quando a Anvisa determinou que o Instituto Butantan suspendesses os testes com a vacina Coronavac por conta de uma ocorrência adversa (a morte de um voluntário, que em verdade cometera suicídio), Bolsonaro correu para as redes sociais: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. Ontem foram muitas as que Jair Bolsonaro perdeu, e ele calado ficou. Em algum país o governante calou-se no início da vacinação?
Bolsonaro perdeu a aposta contra a vacina e também contra o rival João Dória. A Anvisa mostrou sua cara e confirmou sua independência, decidindo por critérios científicos aprovar as vacinas Oxford-Astrazenica (que ainda não temos), e a Coronavac. E ainda desmoralizou o charlatanismo de Bolsonaro e Pazuello ao proclamar: não existem remédios contra a Covid. Nada funciona além do isolamento social, dos cuidados corporais e da vacina. E eles não não gostam dos três.
Por fim, os jovens deram uma lição ao governo, não se expondo para fazer o Enem em pleno repique da pandemia. A abstenção foi de 51%.
Duas mulheres, uma negra e uma índia, foram as primeiras brasileiras vacinadas ontem, e suas imagens disseram que o Brasil verdadeiro venceu a ignorância e sabotagem de Bolsonaro para conquistar o direito à vacina. Há algum tempo ficou claro que, se dependesse do Ministério da Saúde, não teríamos vacina alguma. Que só contaríamos mesmo com a Coronavac, que Bolsonaro já chamou de “vachina do Dória”, “vacina da China” e “vacina daquele país”, em referência à China.
É claro que Doria ganhou politicamente. É claro que ele também fez uma aposta política na vacina, aspirante que é a candidato presidencial em 2022, mas é preciso reconhecer que fez a aposta certa: na ciência e na tecnologia, na cooperação internacional e na capacidade técnica do Instituto Butantan. Liderando este esforço, poderia tornar-se conhecido fora de São Paulo, como ele mesmo admitiu. Teve a iniciativa de buscar o acordo com a empresa chinesa quando a maioria dos países começou a correr atrás de vacinas, enquanto aqui o governo federal distribuía cloroquina e receitava outros remédios inúteis, inventando o “tratamento precoce”.
Achei espantosamente cínica, ontem, a tentativa de Pazuello de vender a vacina como conquista de seu ministério, que afinal só fez comprar a produção do Butantan. Falava da obrigação do instituto de entregar as seis milhões de doses como se se tratasse de um órgão subordinado. “Tenha um pingo de humidade e reconheça o esforço que São Paulo fez para garantir esta vacina aos brasileiros”, acabou dizendo Dória na troca de desaforos que trocou com general-ministro nas entrevistas de ambos.
A tragédia de Manaus, que o governo federal poderia ter evitado, foi a gota d’água no copo já cheio pela indignação dos brasileiros com tanto descaso, tanta incompetência e tanta falta de compaixão pelos 200 mil (hoje serão 210 mil) que já morreram e por seus familiares. Os panelaços voltaram, o impeachment entrou novamente em cartaz. A maré virou contra Bolsonaro e as forças democráticas precisam aproveitar o momento. É hora de manter a mobilização, ainda que virtual, e de aumentar a pressão pelo impeachment deste troglodita celerado.
Texto original em português do Brasil
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