Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, a 6ª Marcha das Margaridas pretende florir Brasília nos dias 13 e 14 de agosto para “anunciar ao Brasil e ao mundo o modelo de sociedade que defendemos”, diz Mazé Morais, secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e coordenadora do evento.
“Lutamos por uma sociedade baseada no respeito à dignidade das pessoas, sem discriminação, com oportunidades iguais perante a vida”, complementa a sindicalista do Piauí. “Queremos a valorização da produção de alimentos saudáveis com mais investimentos na agricultura familiar”.
Responsável por cerca de 70% da produção de alimentos, a agricultura familiar vem sofrendo cortes desde a deposição da presidenta Dilma Rousseff em 2016. A agricultura familiar tinha uma verba de R$ 7 bilhões, em 2018. Neste ano sofreu redução para R$ 5,8 bilhões.
“Fica difícil mantermos a produção nos mesmos patamares sem investimentos”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e secretária-geral da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Bahia (Fetag-BA).
Vânia explica que o mundo do trabalho é machista e racista. “Tanto na cidade quanto no campo as mulheres são discriminadas”, diz. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as mulheres dedicaram 21,3 horas por semana com afazeres domésticos, em média por semana no ano de 2018, praticamente o dobro do que os homens gastaram com as mesmas tarefas – 10,9 horas.
A sindicalista baiana argumenta que “as trabalhadoras enfrentam dificuldades na divisão das tarefas domésticas, no meio rural com o acréscimo de que cuidamos das hortas e criação de animais pequenos, vistas como atividades domésticas como cuidar da casa e dos filhos”.
O argumento dela é que “as tarefas domésticas não têm remuneração, são vistas como menos importantes e muitas vezes negam às mulheres o direito de participar das decisões sobre a administração das coisas e sobre a comercialização dos produtos”.
Mazé concorda. Por isso, diz ela, “as Margaridas marcham por direto à terra, ao acesso à água, por mais saúde e educação e em defesa de uma agricultura sustentável, sem agrotóxicos e sem prejudicar o meio ambiente”.
De acordo com ela, “marchamos em 2019 contra essa deforma da previdência, pela revogação da reforma trabalhista, pela democracia, em defesa da verdade e contra todos os tipos de violência contra as mulheres”.
Violência
Somente em 2018, foram registrados 4.254 assassinatos de mulheres no Brasil, segundo levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1.173 registrados como feminicídio, mais de três por dia.
Vânia conta que no meio rural, “as mulheres ficam mais vulneráveis por causa do distanciamento dos grandes centros e da falta de presença do Estado para a nossa proteção, além da dificuldade de acesso”.
Ela questiona o abandono da Patrulha Maria da Penha Rural e Mazé acentua a necessidade de “políticas públicas de atendimento e proteção das mulheres e meninas contra todo o tipo de exploração e abuso e também para conter o alto número de feminicídios no país”.
Vânia reforça que essas políticas públicas devem atender a todas no meio urbano e rural “para o Brasil sair do vergonhoso ranking de quinto país mais violento contra as mulheres”.
Já para Sabrina Barros da Silva, secretária da Mulher da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Rio de Janeiro (Fetagri-RJ), AS Margaridas de todo o Brasil prometem lotar as ruas de Brasília para “lutar por democracia com igualdade, justiça para todas e todos além de autonomia econômica para as mulheres”.
A sindicalista carioca defende ainda o direito a “uma vida livre de todas as formas de violência, sem racismo, sem sexismo, por saúde pública, e por uma educação não sexista e antirracista e direitos com uma educação de qualidade no campo e na cidade”.
Mazé denuncia o abandono de políticas públicas importantes para manter uma alimentação saudável na mesa das brasileiras e brasileiros e a degradação do trabalho no campo sem essas políticas.
Para ela, o favorecimento ao agronegócio que não tem compromisso com uma produção sem prejuízos para o meio ambiente causa prejuízo à “soberania alimentar, levando ao empobrecimento e padronização das práticas alimentares e à disseminação de conflitos territoriais”.
As sindicalistas questionam a liberação indiscriminada de defensivos agrícolas com utilização proibidas na maioria dos países desenvolvidos. “Com a liberação de tantos agrotóxicos a população mais carente vai se envenenar pela falta de condição de comprar o alimento limpo enquanto a classe privilegiada não se incomoda com essa liberação, porque eles têm situação financeira para adquirir produtos de qualidade”, lamenta Sabrina.
“A 6ª Marcha das Margaridas ganha mais importância política ainda por causa do momento difícil de retrocessos e de ofensiva aos contra os direitos das mulheres, dos negros, dos LGBTs, dos povos indígenas e da juventude”, finaliza Mazé. “Resistir é o nosso lema para vencermos o ódio e a violência”, conclui Vânia.
por Marcos Aurélio Ruy | Texto original em português do Brasil
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