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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Maria da Graça Marques Pinto

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(N.1950)

Cidadã da Resistência antifascista, mulher de grande determinação e coragem, entrou na militância contra o regime com apenas 18 anos e tornou-se conhecida nos jovens da sua geração. Aos 20 anos foi presa, torturada mas “não dobrou” perante a PIDE.

Passou à clandestinidade no PCP em 1973, altura em que nasceu a sua primeira filha. «Magaça» é o nome pelo qual é nomeada entre os amigos, que a consideram uma lutadora e, desde sempre, uma mulher de causas.

Entrou na militância contra o regime aos 18 anos

Biografia Prisional de Magaça, que consta do arquivo da Torre do Tombo

Maria da Graça Melo Cabral Marques Pinto (“Magaça”) nasceu em Vila de Manica (Moçambique), em 10 de Setembro de 1950, numa família de conhecidos activistas da Resistência: Orlando Marques Pinto (Pai), oficial do exército, e Mariana de Medeiros da Câmara de Melo Cabral Marques Pinto (Mãe, com biografia em Antifascistas da Resistência). Frequentou diversas escolas em Portugal, S. Tomé, Angola e Moçambique e entrou para a Faculdade de Direito em 1968, onde foi activista do movimento estudantil e colaboradora da secção cultural da Associação de Estudantes, nomeadamente durante a chamada crise de 1969, quando os estudantes reivindicavam uma educação democrática e os direitos de reunião, associação e manifestação reprimidos pelo regime fascista[1]. Iniciou a militância na organização estudantil do Partido Comunista em 1969.

Com apenas 18 anos foi detida pela PIDE, a 14 de Maio de 1969, em Oeiras, por «actividades contra a segurança do Estado» e mantida na Prisão de Caxias .

Foi solta mediante caução e veio a ser julgada a 23 de Junho de 1970. Condenada, então, à pena de dois meses de prisão , viu a pena ser suspensa por três anos.

No País Basco, com a irmã, Fernanda Marques Pinto (à direita na imagem), pouco antes de entrar para a clandestinidade

Voltou a ser presa a 24 de Março de 1971, por “actividade contra a segurança do Estado” e, nessa prisão, foi submetida a várias formas de tortura, incluindo tortura do sono e estátua. No dia 16 de Abril de 1971, na sequência das consequências das torturas a que havia sido sujeita, foi internada no Hospital da Ordem Terceira de São Francisco, em Lisboa, e só a 15 de Maio regressou à cadeia de Caxias. Foi julgada no Tribunal Plenário de Lisboa em 21 de Dezembro de 1971, tendo sido absolvida e solta (após 9 meses de prisão).

Passou à clandestinidade em 1973

Uma vez libertada prosseguiu os estudos, mas interrompeu o curso de direito no terceiro ano, em Fevereiro de 1973, para passar à clandestinidade, a fim de realizar trabalho político na UEC[2]. Foi na clandestinidade, a 25 de Dezembro de 1973, que nasceu a primeira filha, Rita[3]. .

Após a Revolução de 1974[2], Maria da Graça integrou a Comissão Executiva da União dos Estudantes Comunistas (UEC) e foi responsável pelo “acompanhamento” do distrito de Setúbal e linhas do Estoril e de Sintra. Posteriormente, assessorou o gabinete de economia do PCP. Saiu deste partido em 1986.

Actualmente é Professora, mas continua politicamente activa

Magaça

Actualmente reside em Viseu.

Terminou uma licenciatura em Português/Francês (área de ensino) e é professora, tendo exercido cargos de presidente da Assembleia Geral de Escola e membro do Conselho Pedagógico.

Foi membro da coordenadora distrital de Viseu da Federações de Pais e Encarregados de Educação e da direcção da Confederação Nacional. É membro do SOS Racismo.

Aderiu ao BE em 2001 e, desde então, é activista deste partido.

Funções que desempenhou

Funções desempenhadas no Bloco de Esquerda:

  • 2003 – eleita, na III Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
  • 2005 – reeleita, na IV Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
  • 21 Maio de 2005 – eleita para a Comissão Política do Bloco de Esquerda (mandato 2005-2007)
  • 2007 – reeleita, na V Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
  • 2009 – reeleita, na VI Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
  • 2011 – reeleita, na VII Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda. Foi eleita pelo Bloco para a Assembleia Municipal de Viseu; candidata à Câmara Municipal e à Assembleia da República.
  • Integrou, durante vários anos, a Comissão Coordenadora Concelhia de Viseu e a Comissão Coordenadora Distrital de Viseu do Bloco de Esquerda.

Presentemente, Maria da Graça Marques Pinto é membro da Comissão Coordenadora de Viseu do Bloco de Esquerda.

[1] As Associações de Estudantes defrontavam um verdadeiro colete de forças urdido por uma legislação que cerceava o direito de associação: a todo o momento tinha lugar a intervenção das forças policiais e, posteriormente, também, a dos chamados “gorilas”, pretensos funcionários que eram introduzidos nas faculdades (caso de Direito) com a função de reprimir qualquer contestação e de proceder à pronta intervenção da polícia de choque.

[2]

Na altura, o Partido Comunista criou a União dos Estudantes Comunistas (UEC) com relativa autonomia e eu fui abordada no sentido de ir apoiar logisticamente e não só a direcção desta organização. Estava numa casa clandestina onde imprimíamos comunicados clandestinos com métodos arcaicos e silenciosos como nos primórdios da imprensa. Fazia traduções e foi aqui que conheci também o pai da minha filha mais velha (José Manuel Roupiço)»

[3]

A Rita nasceu na clandestinidade com a ajuda de uma corajosa mulher e excelente obstetra, a Dra. Cesina Bermudes, que, correndo grandes riscos, apoiou muitas mulheres que tiveram filhos na clandestinidade! As circunstâncias eram difíceis, sendo que o facto de ter dado entrada na maternidade na madrugada do dia 25 de Dezembro sozinha e com um nome e morada falsos constituía um risco acrescido. A dilatação foi demorada, mas a Dra. Cesina Bermudes esteve junto de mim até ao parto!»

[4]

Estávamos em reunião (na minha casa) eu, o Carlos Brito, a Zita Seabra, o Albano Nunes, que ainda hoje está no Partido Comunista, e o pai da Rita, José Manuel Roupiço. Eu achei estranhíssimo porque normalmente as reuniões prolongavam-se até tarde e a reunião do dia 24 terminou muito cedo e o próprio Carlos Brito disse que era melhor continuar no dia seguinte (…). Eu ainda fiquei uns dias na casa. O Roupiço foi para Coimbra organizar plenários no meio estudantil. O Albano Nunes para o Porto. A Zita e o Carlos Brito ficaram por Lisboa. Eu fiquei como que “guardiã” da casa para o que desse e viesse, porque se houvesse uma reviravolta tínhamos que destruir tudo. Creio que foi no dia 29 que me apresentei em casa dos meus pais com a Rita ao colo que eles não sabiam que existia. A minha mãe e o meu pai tiveram uma alegria imensa.»

Dados biográficos

  • Testemunho para as Mulheres de Abril in Mulheres de Abril: Testemunho de Graça Marques Pinto (Magaça) (Esquerda.net)
  • Documentos facultados pela família, especificamente:
    • O Bisbilhoteiro (jornal da escola de Maria da Graça Marques Pinto) e revista Visão
    • Testemunho no Jornal do Centro, Abril de 2017, nº 784.
    • Declaração do PCP sobre o seu tempo na clandestinidade
    • Declaração do Ministério da Cultura sobre os seus registos no que se refere ao seu cadastro prisional
    • Biografia prisional

Fotos: facultadas pela família de Maria da Graça


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