(N.1950)
Cidadã da Resistência antifascista, mulher de grande determinação e coragem, entrou na militância contra o regime com apenas 18 anos e tornou-se conhecida nos jovens da sua geração. Aos 20 anos foi presa, torturada mas “não dobrou” perante a PIDE.
Passou à clandestinidade no PCP em 1973, altura em que nasceu a sua primeira filha. «Magaça» é o nome pelo qual é nomeada entre os amigos, que a consideram uma lutadora e, desde sempre, uma mulher de causas.
Entrou na militância contra o regime aos 18 anos
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Maria da Graça Melo Cabral Marques Pinto (“Magaça”) nasceu em Vila de Manica (Moçambique), em 10 de Setembro de 1950, numa família de conhecidos activistas da Resistência: Orlando Marques Pinto (Pai), oficial do exército, e Mariana de Medeiros da Câmara de Melo Cabral Marques Pinto (Mãe, com biografia em Antifascistas da Resistência). Frequentou diversas escolas em Portugal, S. Tomé, Angola e Moçambique e entrou para a Faculdade de Direito em 1968, onde foi activista do movimento estudantil e colaboradora da secção cultural da Associação de Estudantes, nomeadamente durante a chamada crise de 1969, quando os estudantes reivindicavam uma educação democrática e os direitos de reunião, associação e manifestação reprimidos pelo regime fascista[1]. Iniciou a militância na organização estudantil do Partido Comunista em 1969.
Com apenas 18 anos foi detida pela PIDE, a 14 de Maio de 1969, em Oeiras, por «actividades contra a segurança do Estado» e mantida na Prisão de Caxias .
Foi solta mediante caução e veio a ser julgada a 23 de Junho de 1970. Condenada, então, à pena de dois meses de prisão , viu a pena ser suspensa por três anos.
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No País Basco, com a irmã, Fernanda Marques Pinto (à direita na imagem), pouco antes de entrar para a clandestinidade
Voltou a ser presa a 24 de Março de 1971, por “actividade contra a segurança do Estado” e, nessa prisão, foi submetida a várias formas de tortura, incluindo tortura do sono e estátua. No dia 16 de Abril de 1971, na sequência das consequências das torturas a que havia sido sujeita, foi internada no Hospital da Ordem Terceira de São Francisco, em Lisboa, e só a 15 de Maio regressou à cadeia de Caxias. Foi julgada no Tribunal Plenário de Lisboa em 21 de Dezembro de 1971, tendo sido absolvida e solta (após 9 meses de prisão).
Passou à clandestinidade em 1973
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Uma vez libertada prosseguiu os estudos, mas interrompeu o curso de direito no terceiro ano, em Fevereiro de 1973, para passar à clandestinidade, a fim de realizar trabalho político na UEC[2]. Foi na clandestinidade, a 25 de Dezembro de 1973, que nasceu a primeira filha, Rita[3]. .
Após a Revolução de 1974[2], Maria da Graça integrou a Comissão Executiva da União dos Estudantes Comunistas (UEC) e foi responsável pelo “acompanhamento” do distrito de Setúbal e linhas do Estoril e de Sintra. Posteriormente, assessorou o gabinete de economia do PCP. Saiu deste partido em 1986.
Actualmente é Professora, mas continua politicamente activa
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Actualmente reside em Viseu.
Terminou uma licenciatura em Português/Francês (área de ensino) e é professora, tendo exercido cargos de presidente da Assembleia Geral de Escola e membro do Conselho Pedagógico.
Foi membro da coordenadora distrital de Viseu da Federações de Pais e Encarregados de Educação e da direcção da Confederação Nacional. É membro do SOS Racismo.
Aderiu ao BE em 2001 e, desde então, é activista deste partido.
Funções que desempenhou
Funções desempenhadas no Bloco de Esquerda:
- 2003 – eleita, na III Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
- 2005 – reeleita, na IV Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
- 21 Maio de 2005 – eleita para a Comissão Política do Bloco de Esquerda (mandato 2005-2007)
- 2007 – reeleita, na V Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
- 2009 – reeleita, na VI Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda
- 2011 – reeleita, na VII Convenção do Bloco, para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda. Foi eleita pelo Bloco para a Assembleia Municipal de Viseu; candidata à Câmara Municipal e à Assembleia da República.
- Integrou, durante vários anos, a Comissão Coordenadora Concelhia de Viseu e a Comissão Coordenadora Distrital de Viseu do Bloco de Esquerda.
Presentemente, Maria da Graça Marques Pinto é membro da Comissão Coordenadora de Viseu do Bloco de Esquerda.
[1] As Associações de Estudantes defrontavam um verdadeiro colete de forças urdido por uma legislação que cerceava o direito de associação: a todo o momento tinha lugar a intervenção das forças policiais e, posteriormente, também, a dos chamados “gorilas”, pretensos funcionários que eram introduzidos nas faculdades (caso de Direito) com a função de reprimir qualquer contestação e de proceder à pronta intervenção da polícia de choque.
Na altura, o Partido Comunista criou a União dos Estudantes Comunistas (UEC) com relativa autonomia e eu fui abordada no sentido de ir apoiar logisticamente e não só a direcção desta organização. Estava numa casa clandestina onde imprimíamos comunicados clandestinos com métodos arcaicos e silenciosos como nos primórdios da imprensa. Fazia traduções e foi aqui que conheci também o pai da minha filha mais velha (José Manuel Roupiço)»
A Rita nasceu na clandestinidade com a ajuda de uma corajosa mulher e excelente obstetra, a Dra. Cesina Bermudes, que, correndo grandes riscos, apoiou muitas mulheres que tiveram filhos na clandestinidade! As circunstâncias eram difíceis, sendo que o facto de ter dado entrada na maternidade na madrugada do dia 25 de Dezembro sozinha e com um nome e morada falsos constituía um risco acrescido. A dilatação foi demorada, mas a Dra. Cesina Bermudes esteve junto de mim até ao parto!»
Estávamos em reunião (na minha casa) eu, o Carlos Brito, a Zita Seabra, o Albano Nunes, que ainda hoje está no Partido Comunista, e o pai da Rita, José Manuel Roupiço. Eu achei estranhíssimo porque normalmente as reuniões prolongavam-se até tarde e a reunião do dia 24 terminou muito cedo e o próprio Carlos Brito disse que era melhor continuar no dia seguinte (…). Eu ainda fiquei uns dias na casa. O Roupiço foi para Coimbra organizar plenários no meio estudantil. O Albano Nunes para o Porto. A Zita e o Carlos Brito ficaram por Lisboa. Eu fiquei como que “guardiã” da casa para o que desse e viesse, porque se houvesse uma reviravolta tínhamos que destruir tudo. Creio que foi no dia 29 que me apresentei em casa dos meus pais com a Rita ao colo que eles não sabiam que existia. A minha mãe e o meu pai tiveram uma alegria imensa.»
Dados biográficos
- Testemunho para as Mulheres de Abril in Mulheres de Abril: Testemunho de Graça Marques Pinto (Magaça) (Esquerda.net)
- Documentos facultados pela família, especificamente:
- O Bisbilhoteiro (jornal da escola de Maria da Graça Marques Pinto) e revista Visão
- Testemunho no Jornal do Centro, Abril de 2017, nº 784.
- Declaração do PCP sobre o seu tempo na clandestinidade
- Declaração do Ministério da Cultura sobre os seus registos no que se refere ao seu cadastro prisional
- Biografia prisional
Fotos: facultadas pela família de Maria da Graça
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