Há dois aspectos interessantes na questão levantada por Assunção Cristas quanto ao seu desconhecimento/envolvimento de/em questões relativas ao sector financeiro enquanto ex-Ministra
1) o primeiro, mais directo mas também mais superficial, revela em todo o seu nojo a já conhecida hipocrisia do CDS e das suas lideranças face ao “país” e ao exercicio de funções de representação politica – ficando por saber se por “país” se entende apenas o conjunto de eleitoras/es do partido, ou aquele grupo ainda mais restrito, o das pessoas directamente beneficiadas pela acção do partido;
2) o segundo, mais oculto, é a forma como estas práticas – já conhecidas de quem acompanhava a política, mas que agora tanto “surpreende” e “choca” quem tem votado com os pés nas últimas décadas – traduzem uma estratégia muito clara por parte do PSD e dos diversos sectores a ele afectos ou por ele controlados: a de deixar crucificar publicamente o anterior parceiro, o tal com o qual tantas afinidades existiam, numa tentativa de passar incólume por entre os pingos daquilo que entretanto se atirou à ventoínha. Em diversas situações, a inimputabilidade das principais figuras do governo anterior, Maria Luis Albuquerque e Pedro Passos Coelho, continua a ser não apenas sugerida mas mediaticamente alimentada, como se nada tivesse sido feito com a sua anuência.
É importante não deixar passar o evidente por tudo o que existe para conhecer: regra geral, para que uma coisa que enoja seja divulgada outra muito mais suja fica por assumir.
Imagem: Salvador Dali, El hombre invisible (1929-1932) – Museu Rainha Sofia, Madrid
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