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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Mariana e “os radicais”

Estrela Serrano
Estrela Serranohttps://vaievem.wordpress.com/
Professora de Jornalismo e Comunicação

mariana-mortagua

 

A chicana em torno de declarações de Mariana Mortágua (MM) sobre a hipótese de criação de um novo imposto sobre património imobiliário mostra as contradições e perversões do debate político em Portugal.

A proliferação de comentadores agrava a situação porque na maior parte dos casos falam de tudo sem saberem bem do que falam. São eles que o dizem: “não se sabe em que consiste o novo imposto”. (Apetece então dizer-lhes como Juan Carlos disse a Chavez : “Por qué no te callas?“)

António Costa veio hoje esclarecer que o novo imposto está em discussão no seio do governo e lançou ele próprio uma série de questões em aberto sobre o dito imposto.

Ora, se o orçamento de Estado está em preparação é natural que surjam ideias e propostas que não se encontram ainda completas e estruturadas, sobretudo quando o governo tem de as negociar com os partidos que poderão viabilizar o orçamento. Se nada viesse a público, o governo seria acusado de falta de diálogo, secretismo, etc. Como a hipótese de um imposto sobre o património veio a público, caíu o carmo e a trindade.

Mas esta discussão já foi útil: primeiro porque mostrou que a maioria dos comentadores e jornalistas acham um horror taxar o património de valor acima de um milhão de euros (ou mesmo de 500 mil); depois, porque para eles esse imposto representa um ataque à “classe média”; depois, ainda, porque ficamos a saber que a “classe média” em Portugal é afinal uma “classe rica”. (Não os ouvimos gritar tanto quando o então ministro Vítor Gaspar fez o “enorme aumento de impostos”.)

Finalmente, jornalistas e comentadores parecem surpreendidos por Mariana Mortágua defender um imposto a que chamam “radical” mas que existe em países muito pouco “radicais”, como a Holanda, a França, o Luxemburgo ou a Espanha. Ora, nem o imposto é “radical” nem o facto de a sua divulgação ter partido de Mariana o torna automaticamente “radical”. Os que o acham “radical” estão preocupados com os coitadinhos-que-têm-património-imobiliário-de valor-superior-a-um-milhão-de euros ….

O que esta discussão revela é, sim, a radicalização à direita de grande parte dos jornalistas e comentadores que dominam o espaço público mediático.

Artigo publicado inicialmente no blog VAI E VEM

Nota do Director

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