A fotografia do ministro Mário Centeno publicada na primeira página do Expresso deste sábado é uma escolha feliz do fotógrafo que a captou. Nela, Centeno ostenta aquele ar sofrido e inseguro que se sobrepõe quase sempre ao discurso verbal qualquer que seja o teor deste.
Mário Centeno é um académico de prestígio e tem mostrado capacidade e competência para elaborar orçamentos que conciliem as posições dos partidos que apoiam o governo, tarefa que não está ao alcance de quaquer um. Centeno não é um político nem é perito em soundbites ou frases assassinas tão ao gosto dos políticos profissionais e dos jornalistas. Aquele ar infeliz e meio assustado que ostenta na capa do Expresso não é defeito, é feitio.
Centeno, o oposto de Maria Luís e Gaspar
Centeno é o oposto de Maria Luís Albuquerque para quem a melhor defesa era (e ainda é) o ataque, não hesitando em mentir para defender os seus pontos de vista, escondendo na arrogância a incompetência e as contradições em que amiúde caíu. Ainda hoje, quem a ouve falar não diria o estado caótico em que deixou a banca e as mentiras com que alimentou a “saída limpa” da troika.
Mas Centeno é também o oposto de Vítor Gaspar, apesar deste ser também um académico. Aliás, Gaspar não escondeu o desprezo pelos deputados e pelos políticos. A diferença entre Gaspar e Centeno reside no facto de Gaspar ter tido como primeiro-ministro Passos Coelho, um polítco sem qualquer experiência governativa nem visão estratégica, apenas norteado pelo medo da Europa e pela obediência cega aos ditames da troika. Gaspar impôs-se a Passos , era ele quem mandava, Passos apenas obedecia.
Ao contrário, Centeno tem o respaldo de um primeiro-ministro que é um político experiente e com uma visão estratégica para o País e o seu papel na União Europeia, capaz de negociar de igual para igual com os seus pares sem medos nem complexos perante os Schäubles e as Merkels deste mundo.
A autoridade e a capacidade política de António Costa são o respaldo necessário à genuinidade e quase candura de Mário Centeno. O optimismo de Costa, a sua força anímica e o seu carisma dão espaço a Mário Centeno para que ele possa continuar a ser quem é, isto é, um bom ministro das Finanças mesmo com aquele seu ar infeliz e ainda que não saiba ou não queira responder à letra aos ataques da oposição e dos comentadores que julgam ver nele o elo mais fraco do governo.
Artigo publicado inicialmente no blog VAI E VEM