Mário Nogueira é sindicalista há muitos anos, e desde há muito que vem liderando a FENPROF.
Muitas lutas já travou em nome dos professores, muitos argumentos esgrimiu com Ministros e Secretários de Estado. Com mais ou menos razão, com mais ou menos resultados.
A luta que vem travando pela recuperação de mais de nove anos da carreira dos professores tem sido, todavia, das mais intensas e mais longas. Mas, com altos e baixos, fracassos e meias vitórias, parecia que finalmente poderia chegar a bom porto após uma votação na Comissão Parlamentar de Educação: a recuperação das carreiras foi aprovada na totalidade, e iria ser confirmada no plenário da Assembleia.
Mas a sorte nada quis com Nogueira.
Face à ameaça de demissão do Governo proferida por António Costa, tudo se alterou.
Assunção Cristas, que após a votação na Comissão até já havia desafiado António Costa para apresentar uma moção de confiança, lembrou-se ao fim de dois dias que, afinal, o CDS tinha apresentado outras propostas sobre o tema e sem a sua aprovação não haveria recuperação de tempo de serviço.
Epifânia idêntica, ainda que mais tardia, teve Rui Rio.
A aprovação final na Assembleia da recuperação do tempo de serviço dos professores e os correspondentes pagamentos ficariam dependentes de existirem condições orçamentais e de crescimento que o permitissem; e da aceitação da reestruturação da carreira docente, com inclusão de um sistema de avaliação para progressão na carreira.
Ou seja, seria trocar o pagamento seguro de mais de dois anos de recuperação de tempo de serviço, por uns completamente incertos mais de nove anos, relativamente aos quais poderia nunca haver condições para serem efectivamente pagos.
Esperava-se assim que Mário Nogueira viesse dizer, em defesa dos interesses dos professores, que não era isto que tinha sido discutido e aprovado em Comissão, onde esteve presente; e que os professores não aceitavam condicionar o pagamento a situações que poderiam nunca acontecer.
Mas não! Nogueira achou isto normal, e veio mesmo pedir ao PCP e ao BE que, na votação em plenário, se abstivessem na votação das propostas do PSD e do CDS. Na previsão mais que certa de um voto contra do PS, a abstenção daqueles partidos permitiria a aprovação dessas propostas.
E Nogueira teria a sua coroa de glória: os 9 anos, 4 meses e 2 dias, seriam finalmente reconhecidos, como sempre exigiu.
Claro que os professores ficariam com uma vitória moral que compensaria toda a sua motivação e empenho nesta luta, mas nada mais que isso.
Mas seria isso importante? Isso seriam minudências face ao reconhecimento da vitória de Nogueira; e essa sim, era importante!
Por acaso, Jerónimo de Sousa afirmou hoje que não poderia abster-se nessa votação, pois os professores nem em cinquenta anos iriam receber o tempo de serviço. Ou seja, tudo indica que, a final, terão os professores o consolo do pagamento de mais de dois anos.
E isto seria tudo! Ou talvez não!
É que, após tanto anos sem dar aulas, parece que Mário Nogueira se esqueceu que também foi professor. E a posição de Jerónimo de Sousa não augura nada de bom quanto ao futuro do sindicalista, que provavelmente ainda terá de voltar às salas de aulas.
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