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Sexta-feira, Janeiro 31, 2025

Marrocos em revolta e sem governo

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Quase cinco meses após as eleições parlamentares, Marrocos ainda está sem governo. Apesar da recondução de Abdelilah Benkirane pelo rei Mohamed VI para chefiar o governo após a vitória de seu partido, o primeiro-ministro, ainda não foi capaz de formar uma coligação maioritária necessária para a nomeação de um novo gabinete.

Apesar do sucesso eleitoral do seu partido (Partido da Justiça e Desenvolvimento, PJD) nas eleições legislativas realizadas a 7 de Outubro de 2016, todas as iniciativas propostas por Benkirane, de nomear um novo governo, falharam devido às exigências de Aziz Akhannouch líder da União Nacional Independente(RNI).

Não obstante a enorme diferença em termos de lugares obtida na votação entre o seu partido e o PJD (85 lugares), Akhannouch é visto como o “homem forte” das negociações para formar o governo. A sua proximidade com Mohamed VI, permite a Aziz continuar a impor as suas condições a Benkirane.

“O PJD mostrou hoje que ser sério e verdadeiro (…) e fiel às instituições, especialmente à monarquia é uma fórmula vencedora”, disse o líder do partido e actual primeiro-ministro, Abdelilah Benkirane após as eleições.

No Sábado passado, Aziz Akhannouch continuava a insistir na intransigência sobre a composição da coligação na qual não abdica da presença do USFP, segundo publicado no Medias24.

“Nossa posição é clara e inalterada: queremos um governo forte e uma confortável maioria de 240 assentos. Não estamos preparados para entrar numa coligação que não seja suficientemente forte”, alertou. “Nós estamos com o USFP, cada um que assuma a sua responsabilidade”, alertou Aziz.

Benkirane encurralado

O PJD necessita de um quarto aliado para formar governo e o único disponível, é o RNI.

O RNI, é liderado pelo ex-ministro da Agricultura e empresário Aziz Akhannouch, um dos homens mais ricos da África, que disse que apenas estaria disposto a participar no governo se o Partido da Independência, Istiqlal – um forte aliado de Benkirane – fosse excluído.

Aziz pediu que o Partido da União Constitucional (UC) e a União Socialista das Forças Populares (USFP) sejam incluídos no governo, altura em que Benkirane interrompeu as negociações.

Apesar do apoio de seu partido, Benkirane, chefe de governo teria intenção de renunciar, de acordo o Telquel orgão marroquino de língua árabe.

O silêncio misterioso de Mohamed VI

Confrontado com este impasse, o rei Mohamed VI continua um silêncio misterioso. Pior, o rei parece favorecer a sua ofensiva diplomática Africana à formação de um novo governo. Como tal, o monarca falou abertamente sobre o assunto apenas uma vez durante o seu discurso em Dakar, em Novembro de 2016. E a única acção conhecida foi o envio de dois de seus conselheiros a Benkirane, em Dezembro de 2016, para expressar o seu “desejo” de ver um governo formado o mais rapidamente possível.

No entanto, Mohamed VI não poupou forças envolvendo-se directamente na nomeação de um novo presidente do Parlamento, a fim de ratificar o Acto Constitutivo da União Africano (UA).

População Marroquina em revolta

Perante a ausência e silêncio de Mohamed VI, que está totalmente dedicado à defesa intransigente da ocupação do Sahara Ocidental, a população marroquina tem-se manifestado não só no norte de Marrocos como em muitas outras cidades. As noticias sobre estas manifestações e subsequentes detenções de manifestantes não é denunciada na imprensa internacional, nem o facto que Marocos voltou a condenar prisioneiros à pena de Morte (como denunciado no último relatório da Amnistia Internacional).

Apesar das injecções de dinheiro dos aliados de Marrocos e da União Europeia, disfarçadas como ajudas para o desenvolvimento, reforço dos direitos humanos e do sistema judicial, a economia Marroquina depende do saque dos recursos naturais do Sahara Ocidental.

A população marroquina não vê qualquer beneficio directo uma vez que o índicie de pobreza não pára de crescer, sendo considerado o 4º país mais pobre do mundo árabe, mas Mohamed VI é o 5º homem mais rico de África (fonte: Forbes), detendo 80% da totalidade da riqueza segundo vários meios de comunicação social marroquinos e franceses.

Mohamed VI e o Sahara Ocidental, a galinha de ouro

É pois essencial para Mohamed VI manter a ocupação do Sahara Ocidental a todo o custo. Para contrariar qualquer pressão internacional a esta ocupação, recorre à ameaça de envio de emigrantes ilegais, como fez este mês de Fevereiro e que foi seguido de imediato pela notícia que mais de 800 emigrantes “milagrosamente” conseguiram chegar a solo Espanhol em Ceuta.

Marrocos apresenta-se como o campeão da defesa da Europa no Norte de África, mas de facto é um dos seus maiores problemas tendo a capacidade de controlar o fluxo migratório segundo a sua agenda política, é o rei da produção de haxixe e distribuição do narcotráfico, desrespeita toda e qualquer decisão das Nações Unidas, não respeita os acordos e convênios internacionais que ratificou e é um dos polos de formação de terroristas.

Quem sofre directamente com a ganância de poder e dinheiro do Monarca é a população marroquina e evidentemente a população do Sahara Ocidental que sofre na pele a repressão diária e o apartheid, para além do saque dos recursos naturais do território.

A quantidade de dinheiro que é retirado do Sahara Ocidental diariamente justifica largamente os 3 milhões de USD diários necessários para manter o maior muro de separação do mundo com 2720km de extensão e mais de 200 000 soldados marroquinos. Um muro que chega para rodear Portugal continental, Madeira e parte dos Açores.

A comunidade internacional silenciosa na sua grande maioria e Portugal, que tem na sua Constituição consagrado o direito dos povos à auto-determinação, mais uma vez ignora a sua lei base.

 

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