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Sábado, Julho 27, 2024

Marroquinos pedem ao Governo emigração ilegal gratuita

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Este fim de Semana, em Martil, Marrocos, uma vila à beira do Mediterrâneo, centenas de Marroquinos vieram a praia gritando: “Queremos emigração ilegal gratuita!”. “Bghaina harga favor”em darijadialecto marroquino.

Ver o video aqui da manifestação em Martil:

Publicado por Jamal Aalla em Domingo, 23 de Setembro de 2018

 

Esta manifestação com uma reivindicação sui generis aconteceu após agentes das autoridades marroquinas terem, na semana passada, gritado às pessoas que estavam na praia em Martil “Quem quer ir para Espanha?? ” tendo 2 embarcações disponíveis para quem quisesse e gratuitas e transportando dezenas para as costas espanholas. Os emigrantes ilegais marroquinos fizeram vídeos durante a viagem a explicar o que se tinha passado e como estavam contentes.

A emigração ilegal tem um custo elevado e cada viagem pode ir de várias centenas a milhares de Euros dependendo do tipo de transporte, segurança, rapidez, eficácia e rota.

Já na semana anterior pessoas com fardas da Guarda Civil espanhola e cara tapada em Tanger tinham actuado da mesma forma oferecendo “emigração ilegal gratuita”.

Marrocos utiliza a emigração ilegal como forma de pressão sobre a Europa e sempre que existe uma decisão política que desagrada ao Reino de Mohamed VI às portas da emigração ilegal são abertas e centenas de emigrantes têm passagem livre para cruzarem o Mediterrâneo.

No entanto foram estes os primeiros relatos de “emigração ilegal gratuita” e disponibilizada por pessoas que se identificam como autoridades de Espanha e Marrocos.

Um procedimento não apenas ilegal como difícil de explicar se não tivermos em conta vários factores. Por um lado, os emigrantes ilegais são uma forma de pressão que o Reino de Marrocos tem sobre a Europa para conseguir os subsídios, subvenções, negócios e acordos sem que sejam respeitadas as premissa dos mesmos. Por outro lado, Marrocos é um barril de pólvora com manifestações e levantamentos de regiões inteiras devido a pobreza extrema, a corrupção e o regime de terror imposto. A emigração de cidadãos marroquinos é por isso algo desejável que liberta um pouco a tensão existente no país e faz entrar divisas.

Marrocos, no entanto, está aparentemente a “colaborar” com a União Europeia ao enviar de volta sub saharianos ilegais como foi o caso de 40 pessoas, incluindo crianças e grávidas para a Costa do Marfim a semana passada. Os emigrantes ilegais marroquinos curiosamente têm mais “sorte” e conseguem ficar na Europa.

O reino Alauíta de Mohamed VI, aproveita também os emigrantes sub saharianos para provocar o caos na fronteira com a Argélia onde os depositam sem qualquer meio de subsistência. Enquanto aguardam a sua sorte e a travessia do Mediterrâneo são explorados em todas as vertentes possíveis, desde o alojamento de custos exorbitantes, a prostituição, violações, roubo, presas fáceis e sem meios de defesa ou protecção.

Muitas das pessoas envolvidas no tráfico e actividades paralelas relacionadas com a emigração ilegal ou têm ligações ou são eles mesmo parte da estrutura policial e política de Marrocos, um país onde a corrupção tem um indicie elevadíssimo e é transversal em todas as estruturas.

55 milhões da União Europeia para o programa de Gestão de Fronteiras

Numa carta enviada pelo presidente do Conselho Europeu a Sanchez presidente do governo espanhol, Juncker  explica o financiamento que a União Europeia atribuiu às tarefas marroquinas de controlo fronteiriço e lembra a Sánchez o último acordo comunitário, alcançado em 6 de Julho, pelo Comité Operacional. O Fundo Fiduciário de Emergência para a África aprovou um “programa de gestão de fronteiras de 55 milhões de euros” para a Tunísia e Marrocos, para “equipar os dois países com o material técnico apropriado e perícia, de acordo com a prioridade que eles determinaram.”

As buscas, detenções e expulsões de migrantes sub saharianos das cidades do norte para o sul de Marrocos, como para cidades como Tiznit, começaram logo depois que a União Europeia concordou em pagar ao Reino dezenas de milhões de euros em “cooperação e desenvolvimento”. Marrocos, no entanto, solicitou ajuda adicional da UE nas últimas semanas para lidar com o controle da imigração.

As “pateras” do exílio

“Pateras” é o nome dado às frágeis embarcações que chegam às costas de Espanha com emigrantes ilegais.

Na semana passada um elevado número destas embarcações chegarem “carregadas” com activistas políticos da região do Rif, que está em revolta desde 2016 e na qual a população tem sido violentamente reprimida pelo Palácio de Mohamed VI e o seu governo. São centenas de líderes deste movimento nas prisões, torturados e também um black out absoluto dos meios de comunicação social.

“Não se fala de mais nada nos cafés de Alhucemas que dos movimentos de barcos que chegaram ou vão partir para a Espanha, aproveitando que as autoridades marroquinas estão a incentivar a saída dos jovens mais combativos “, disse á agência espanhola Efe, Anwar, um dos últimos activistas do Hirak ainda em liberdade na capital do Rif.

Considerar um marroquino do Rif como “refugiado” na Europa pode significar uma “bomba diplomática”

Segundo publicado num artigo pela agência espanhola EFE, Fontes da Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (CEAR) lembram que o procedimento de concessão de asilo leva no mínimo seis meses em Espanha e que cada caso é estudado individualmente e pessoalmente, sem que a origem si só seja suficiente para obter o estatuto de refugiado.

As mesmas fontes reconhecem que a consideração dos residentes do Rif como “refugiados” pode significar uma “bomba diplomática”, dado o que isso significaria sobre a consideração política de um país vizinho, Marrocos, que oficialmente se qualifica em Madrid como modelo.

Esta capa de “modelo” de desenvolvimento e direitos humanos é vendida pelos amigos de Marrocos na União Europeia, que assim justificam os milhões de Euros que são injectados no reino alauita, sem nunca haver um controle sobre o destino destes fundos.

Vistos de Deus

A emigração ilegal por mar não é nada de novo, a diferença está na origem, quantidade e locais de desembarque e sem qualquer dúvida na cobertura mediática que tem tido o tema dos “refugiados”.

Há décadas que os saharauis dos territórios ocupados do Sahara Ocidental, fogem ao terror imposto por Marrocos desde 1975, atravessando o atlântico desde El Aaiun, Boujador ou Daklha até Las Palmas, a rota mais segura sem controles, antes dos novos controles que foram colocados em Lanzarote e Fuerteventura que eram os destinos “normais”.

José Saramago, prémio Nobel, denunciou esta situação repetidas vezes, mas as imagens destes refugiados nunca chegam às televisões.

Quando se pergunta a um saharaui “como chegastes a Espanha” e a resposta é: Com um visto de Deus” quer dizer que foi esta a viagem cujos perigos são imensos e as condições do mar e da atmosfera não se comparam com a travessia do mediterrâneo.

 

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