Curiosa esta tendência nacional para dar nome de gente morta em má circunstância ao aeroporto mais à mão. Sá Carneiro, nisso, ganha a palma a todos: morre num avião, dá nome a um aeroporto. Está certo. Zandinga, o vidente que morreu afogado numa banheira, bem podia dar-se ao manifesto: Piscinas Municipais Zandinga do Funchal. Ou, desejando, chamar a uma pistola “O D. Carlos”. “Manda cá uma bujarda o teu D. Carlos”, disse ele…
Isto para não ser um cretino e lançar um conjunto de saca-rolhas da marca Castro. Ou inaugurar a sinagoga Marquês do Pombal. Ou ter as Fechaduras Martim Moniz. And so on…
Vem isto a propósito da nomeada do Aeroporto de Lisboa. Numa manobra de propaganda gostosa, agora vai chamar-se Humberto Delgado. Isto é: a gestão da TAP está como um casamento de conveniência, o esquema accionista parece o cubo mágico, o plano de recuperação e as indemnizações do Estado ainda prevêem que se enterre na companhia mais uma mão de 800 milhões de euros (fora o que se paga ao Seu Neeleman pela recompra) mas, foguetório, o Aeroporto da Ryanair e da Easy Jet chama-se agora Humberto.
Humberto, morto pelas balas portuguesas. Morto, depois de ter criado os transportes aéreos, no tempo em que defendia Hitler. Fez-lhe bem a ida aos States, que de lá veio de peito feito às balas a desafiar o botas. Levou com os tiros no feito peito. Mas a homenagem é justa, muito portuguesa: meu General, desculpe lá aquilo de Badajoz, foi sem querer, tome lá um Aeroporto.
Sá Carneiro, que foi morto e disso ninguém me desconvence, embora isto já seja mais esoterismo do que investigação, desse, já falámos. Mas ainda aguardo que o Cavaco ocupante de Belém lave a cara de duas vergonhas: Salgueiro Maia e José Saramago.
Se a cavacal figura em cortejo ao esquife político souber sair com dignidade dá já o nome de Salgueiro Maia a, pelo menos, uma medalha daquelas que gosta de espetar nas casacas dos amigos -“Grau de Tê-los no Sítio, da Liberdade e de Ser Humilhado Pelo Próprio País”.
Sobre Saramago, justo justo seria ensinar Cavaco Silva a ler. Costa, que vai recuperar a educação de adultos, pode vir a criar uma universidade sénior em Bull & Queime e ajudar o senhor. É que não nos esquecemos de que Cavaco disse, um dia, na TSF, que Os Lusíadas tinham quatro cantos…
Mas que aposto convosco que a terceira travessia do Tejo ainda se há-de chamar Cavaco Silva, isso aposto. Ou a ponte ou um coqueiro. Ou um banco. De jardim, pelo menos…
Leia outros artigos de João Vasco Almeida
[…] Source: Matamo-los e aproveitamos o nome para Aeroporto – Jornal Tornado […]