Todo mundo viu a tentativa de golpe de Bolsonaro, no dia 7 de setembro, com discurso infame e posteriormente o seu “recuo” tático fake. Então a primeira canção selecionada, “Laranja Madura”, de Ataulfo Alves, dá o recado exato para quem por ventura ainda acredite em Bolsonaro e no seu laranjal.
Cadê o Queiroz? Quem mandou matar Marielle? E as rachadinhas? Quem explica as mansões de seus filhos em Brasília? E a Prevent Senior, hein? Nazismo pouco é bobagem. E ainda dizem que a economia está melhorando. Para quem? Desemprego, fome, miséria, trabaloho0 precarizado, devastação. É tudo o que se vê.
“Laranja madura na beira da estrada, tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé”. Poucos maribondos, mortos por agrotóxicos, e muitas laranjas podres neste caso específico.
As outras cinco canções dão o tom da resistência necessária contra o fascismo, que ameaça a vida do país. Os retrocessos já são inúmeros e é fundamental a unidade de quem acredita na democracia para avançar na construção de um país sem miséria, com menos concentração de riqueza e com respeito aos direitos de todas as pessoas a uma vida digna. Com valorização do trabalho para o Brasil voltar a crescer com emprego e renda.
Ataulfo Alves
Como um dos principais nomes do samba, Ataulfo Alves (1909-1969) compôs alguns dos mais importantes clássicos do cancioneiro popular do país. Quem nunca cantou os versos: “Laranja madura na beira da estrada da bichada Zé ou tem marimbondo no pé” para mostrar a desconfiança com promessas ou “esmolas” com fins suspeitos.
“Você diz que me da casa e comida
Boa vida e dinheiro pra gastar
O que é que há, minha gente o que é que há
Tanta bondade que me faz desconfiar
Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé
Santo que vê muita esmola na sua sacola
Desconfia e não faz milagres não
Gosto de Maria Rosa mas quem me dá prosa é Rosa Maria
Vejam só que confusão
Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé”
Laranja Madura (1967), de Ataulfo Alves
BaianaSystem
O BaianaSystem é um dos mais importantes grupos da nova geração da música popular brasileira compromissada com a resistência aos desmandos do capital opressor e para a construção do novo com valorização da vida, da liberdade, da igualdade e dos direitos humanos.
“Três cristos tristes pedindo carona na pista
Um era o bom
O segundo era o mau
O terceiro era o vigarista
Na luta da decepção, a percepção com problema de vista (sei)
Decepção, percepção com problema de vista
Quando invadiram nossas terras
Roubaram nossas riquezas
Reis, rainhas, príncipes, princesas
Invadiram nossas terras
Roubaram nossas riquezas
Reis, rainhas, príncipes, princesas
Cabeça de papel
Me diz quem vai pro céu
Na torre de Babel
1, 2, 3”
Cabeça de Papel (2019), de Russo Passa Pusso e SekoBass
Jann Souza
Jann Souza se define como uma artista preta independente, professora, lésbica e feminista. Ela enaltece o amor e o cuidado com que se deve ter com quem se ama.
“Passarinho quer voar, mas não tem para onde ir
E agora o que fazer? voa solto por aí
Quem foi que disse que liberdade é solidão?
Quem foi que disse que ser livre é partir?
Passarinho precisa de ninho, pra ficar juntinho
Com seu amorzinho
Passarinho precisa de amor, aonde ele for
E se quiser acompanhar, construir também é amar
Voar junto é confiança”
Passarinho (2017), de Jann Souza
Titãs
Um dos mais importantes grupos do rock brasileiro, os Titãs contam com canções marcadas no imaginário popular há décadas. Bichos Escrotos é uma delas e registra a atualidade com sutileza não muito sutil…
“Bichos escrotos saiam dos esgotos
Bichos escrotos venham enfeitar
Meu lar
Meu jantar
Meu nobre paladar
Bichos, saiam dos lixos
Baratas me deixem ver suas patas
Ratos entrem nos sapatos
Do cidadão civilizado
Pulgas que habitam minhas rugas
Oncinha pintada, zebrinha listrada
Coelhinho peludo
Vão se foder
Porque aqui na face da terra
Só bicho escroto
É que vai ter”
Bichos Escrotos (1986), de Arnaldo Antunes, Nando Reis e Sérgio Britto
Francisco, el Hombre
Outro grupo de destaque da nova geração é Francisco, el Hombre. Com um trabalho singular e profundamente bem humorado e humano, o grupo dá o seu recado político.
“Se a um fascista é concedido cargo alto e voz viril
Vai lucrar do desespero, tal loucura já se viu
Bolso dele sempre cheio, nosso copo anda vazio
Mesquinhez e intolerância, bolso nada que pariu
Bolso dele sempre cheio bolso nada que pariu
Bolso dele sempre cheio bolso nada que pariu
Bolso dele sempre cheio bolso nada que pariu
Bolso dele sempre cheio bolso nada que pariu
Esse cara escroto
Muito escroto
Esse cara escroto
Muito escroto”
Bolso Nada (2016), de Francisco, el Hombre; participação de Liniker e os Caramelows
Criolo
Criolo esbanja talento e sempre aparece com novidades e trabalhos impensáveis. Um dos grandes nomes da música popular brasileira.
“Tava bem louco de tudo
Sentе a revolta no mundo
Na angustia da fama, cheirou sua casa
Seu flow virou lеnda, sistema obtuso
Cinco pra cada
Os louco chapando
O céu é o limite
O chão tá chamando
É o disco do Xis que Dandan tá tocando
Chapando o coco, malandro
Confuso, cafuzo
No fuso confuso
Confunde com o Confúcio
De prada no pulso
E Vetim puro ódio de uzi no pódio
Com os tralha da cena que domina mundo
Click-click, cleck-cleck
Click-click, cleck-cleck
O hype sorri, o doce derrete (click-click, cleck-cleck)
A massa sorri, mas cadê teu cheque? (Click-click, cleck-cleck)
Click-click, cleck-cleck
Click-click, cleck-cleck
Rá, quer massa que amassa? (Click-click, cleck-cleck)
E a massa que paga pra quem se diverte (click-click, cleck-cleck)”
Sistema Obtuso (2020), de Criolo e Tropkillaz
Texto em português do Brasil